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Cientistas em empresas já são maioria em São Paulo

Guilherme Gorgulho - Inova Unicamp - 22/06/2011


Cientistas privados

Enquanto há uma contínua diminuição no volume de pesquisadores presentes nas empresas brasileiras, o Estado de São Paulo se destaca pelo aumento da presença desses profissionais no ambiente empresarial.

Dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que serão publicados em julho, na nova edição dos Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo, mostram que, em 2008, as firmas concentravam 53% dos pesquisadores, contra 42% nas Instituições de Ensino Superior (IES) e 5% nos institutos de pesquisa.

Em 2001, a proporção era a inversa, com 43% dos pesquisadores nas empresas paulistas, 51% nas IES e 6% nos institutos.

No Brasil, a tendência dos últimos anos tem sido a diminuição de pesquisadores nas companhias - considerando o cálculo de equivalente de tempo integral (ETI) para evitar distorções decorrentes de diferentes regimes de trabalho dos profissionais.

As empresas brasileiras detinham 39% dos pesquisadores em 2001, enquanto as IES contavam com 54% e os institutos de pesquisa, 7%. Em 2008, a proporção era de 33% nas empresas, 61% nas IES e 6% nos institutos do País.

Economia industrial

O levantamento referente ao cenário nacional, que aponta uma queda gradativa da participação desses profissionais no ambiente corporativo, foi feito pelo físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp e professor do Instituto de Física da Unicamp, com base em indicadores do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e na mais recente Pesquisa de Inovação Tecnológica, a Pintec 2008, divulgada no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A conclusão foi publicada por Brito Cruz no capítulo inicial do livro Inovações tecnológicas no Brasil - desempenho, políticas e potencial, organizado por Ricardo Ubiraci Sennes e Antonio Britto Filho e lançado no início de junho pela editora Cultura Acadêmica.

Em entrevista a Inovação Unicamp, Brito Cruz explica que desde 2005 as empresas têm registrado uma presença superior de pesquisadores em relação às universidades, o que aproxima o sistema de inovação paulista do modelo dos países desenvolvidos, cuja mão-de-obra para P&D se concentra nas firmas.

"A economia do Estado de São Paulo é mais industrializada e mais parecida com a economia do mundo desenvolvido do que com os demais Estados brasileiros. Além disso, em São Paulo, houve um forte peso nesse cálculo dos pesquisadores do setor automobilístico," diz.

Longo caminho a percorrer

Apesar da tendência positiva, o diretor científico da Fapesp prevê que a divulgação futura dos números de 2009 já mostre o impacto negativo da crise financeira na presença de pesquisadores nas empresas. "A constatação de que as próprias empresas estão ampliando seus contingentes de pesquisadores é, em si, indicador de uma mudança importante do comportamento empresarial, que, ao que tudo indica, começa a considerar inovação tecnológica como elemento importante de suas estratégias de concorrência e crescimento", destaca o capítulo 3, sobre recursos humanos em P&D, da nova edição dos "Indicadores Fapesp de C&T&I".

"O aumento de pesquisadores nas empresas em São Paulo indica uma tendência de fortalecimento do sistema de pesquisa empresarial, o que é uma coisa muito desejável para o Estado e seria também desejável para o Brasil, mas no caso do País a proporção é bem diferente", afirma Brito Cruz.

O diretor científico da Fapesp, no entanto, pondera que ainda há um "longo caminho a percorrer" por São Paulo, já que o indicador de pesquisadores ETI por milhão de habitantes mostra que o Estado tem proporcionalmente menos da metade dos pesquisadores de Portugal e Espanha e cerca de um quarto do total dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.

Os dados da publicação da Fapesp apontam que São Paulo, em 2007, tinha 1.147 pesquisadores por milhão de habitantes, enquanto o Brasil tinha apenas 649. São Paulo, com esse volume de profissionais, fica à frente de países como China, Chile, Argentina e México. "A proporção de pesquisadores nas empresas de São Paulo já é razoável, do ponto de vista dos países mais desenvolvidos. É uma proporção similar à do Canadá e à da França, e melhor do que a da Espanha, mas a quantidade total de pesquisadores ainda é pequena para o tamanho de São Paulo."

Estão incluídos neste cálculo os pesquisadores de IES com titulação de doutor, professores universitários em regime de trabalho de dedicação exclusiva ou integral, profissionais de institutos públicos enquadrados como pesquisadores científicos, estudantes de doutorado e pós-doutorado com bolsas de agências de financiamento (Capes, CNPq e Fundações de Apoio à Pesquisa dos Estados) e profissionais com nível superior ocupadas nas atividades internas de P&D de empresas.

Entre 2001 e 2008, o número total de pesquisadores do Estado de São Paulo passou de 43.723 para 62.897, o que significou um aumento de 44%. Mas enquanto o aumento nas IES foi de apenas 12% no período, passando de 22.295 em 2001 para 26.333 pesquisadores em 2008, o crescimento no volume de pesquisadores nas empresas foi de 79%. As empresas contavam com 18.756 pesquisadores em 2001; sete anos depois, contabilizavam 33.528 pesquisadores.

Investimento em ciência e tecnologia

A continuidade dessa tendência de predomínio dos pesquisadores nas empresas no território paulista, caso se confirme, deve produzir reflexos nos próximos anos no aumento do dispêndio privado em P&D. Os dados da Fapesp mostram que o dispêndio total em P&D em São Paulo em 2008 foi de R$ 15,5 bilhões, o que representa 1,52% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Desse montante, as empresas responderam por 62% (R$ 9,5 bilhões); as IES contribuíram com 21% (R$ 3,3 bilhões); as agências de fomento, 9% (R$ 1,5 bilhão); e os institutos de pesquisa, 8% (R$ 1,2 bilhão).

Para Brito Cruz, o dispêndio privado em P&D, entretanto, depende de muitas variáveis da macroeconomia. "Se o crescimento da economia brasileira for mantido acima dos 4% nos próximos anos, haverá crescimento no esforço de pesquisa das empresas", prevê.

O diretor científico da Fapesp ressalta que, apesar de ainda não haver dados consolidados disponíveis sobre P&D no período posterior à crise, há indícios de que a participação das empresas nos investimentos sofrerá alguma queda. Isso porque o componente do PIB chamado de formação bruta de capital fixo (FBCF) apresentou um decréscimo em 2009, destaca Brito Cruz. A FBCF, que tem uma correlação forte com o dispêndio das empresas em pesquisa, é um indicador que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos correntes em ativos fixos - bens produzidos que podem ser utilizados repetida e continuamente em outros processos produtivos por tempo superior a um ano.

A publicação da Fapesp mostra que, em 2008, São Paulo formou 4.824 doutores e 9.959 mestres. Esses números representam, respectivamente, 45% e 30% do total de doutores e mestres formados no Brasil naquele ano. Mas o conhecido déficit de recursos humanos para a P&D nas empresas, considera Brito Cruz, pode agravar ainda mais esses números, apesar de já ser um fenômeno que vem ocorrendo há alguns anos.

No livro "Inovações tecnológicas no Brasil", o físico destaca que o País formou 47.098 profissionais de engenharia, produção e construção - segundo Censos do Ensino Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) -, e que houve uma estagnação a partir de 2007. "A partir de 2006, quando a economia brasileira passou a crescer em taxas superiores a 4% ao ano, evidenciou-se em todas as atividades do País a falta de profissionais qualificados", detalhou Brito Cruz no capítulo 1. Além de engenheiros, há uma escassez de profissionais nas empresas principalmente de áreas relacionadas às Ciências da Natureza, como Física, Química e Geociências, aponta o professor da Unicamp.

Setor agrícola e saúde

Além do lançamento em julho da nova edição do livro "Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo" (2003 a 2008), a Fapesp está iniciando em 2011 a publicação de boletins regulares com atualizações dos dados do setor. Esses novos informes mensais incluirão números de 2009 e 2010 e terão a finalidade de diminuir o antigo intervalo de quatro ou cinco anos entre a publicação das obras com dados consolidados. "O objetivo é o setor de indicadores da Fapesp produzir estimativas, e depois precisar essas estimativas, de tal modo que as organizações que trabalham com planejamento das políticas para pesquisa e desenvolvimento possam ter os indicadores mais a tempo." Em março, a Fapesp publicou o primeiro informe da série, sobre a participação das mulheres na ciência paulista.

Na nova edição da publicação da Fapesp foi dado destaque para dois temas em especial. O primeiro aborda a C&T&I e o setor agrícola paulista. O estudo mostra que mais da metade das patentes do setor agrícola originárias do Brasil e concedidas pelo Escritório de Patentes dos EUA (USPTO, na sigla em inglês) entre 1996 e 2006 foi requerida por instituições de São Paulo. No Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o Estado paulista respondeu por 40% dos depósitos de patentes relacionados ao ramo agrícola entre 1996 e 2004.

Na área da saúde, os indicadores da Fapesp apontam que as empresas paulistas investiram em atividades de inovação, em 2005, 4,7 vezes mais do que as demais indústrias de produtos farmacêuticos do Brasil. "No que se refere à produção científica, medida por meio das publicações indexadas pelo ISI na área das Ciências da Saúde, o Estado de São Paulo supera as demais regiões do País em uma proporção de 1,5 a 2 vezes", informa o capítulo 11, sobre indicadores de C&T&I na saúde.

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