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Brasileiros têm pouco interesse em ciência e tecnologia

Sabine Righetti - Agência FAPESP - 29/02/2008

Brasileiros têm pouco interesse em ciência e tecnologia
Carlos Vogt.
[Imagem: Vera Toledo]

Ciência e democracia

Cientistas e gestores cada vez mais se dão conta da importância da sociedade nas tomadas de decisão sobre ciência e tecnologia, o que representa um ganho significativo para o funcionamento da democracia. E o Brasil tem concedido importantes contribuições com trabalhos de percepção e de participação pública da ciência e da tecnologia desde o início desta década.

A contextualização desses trabalhos em um cenário mais amplo, em que o país se insere em pesquisas com outros países ibero-americanos, foi o fio condutor da sessão de encerramento do congresso Cidadania e Políticas Públicas em Ciência e Tecnologia, em Madri, Espanha, coordenada por Carlos Vogt, secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo.

O evento, que reuniu especialistas de diversos países, foi promovido pela Fundação Espanhola para Ciência e Tecnologia (Fecyt) e pela Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI).

Interesse público pela ciência

Em sua conferência, Vogt destacou que a falta de interesse do público pela ciência ou a falta de confiança na ciência e na tecnologia, ou nos cientistas, estão inseridas em um contexto mais amplo, "que envolve outras variáveis além do ensino formal e do ambiente, como a cultura geral do indivíduo e os estímulos que recebe, por exemplo, pelos meios de comunicação".

"Hoje, a percepção pública da ciência é entendida por muitos como algo integrante de um sistema cultural, que denomino de cultura científica", afirmou. Segundo ele, iniciativas como a divulgação científica e a capacitação de cientistas e de jornalistas para tal atividade são importantes para se consolidar a cultura científica de um país.

Atividades de divulgação científica

A importância de atividades de divulgação científica foi bastante enfatizada durante todo o congresso, que contou com trabalhos sobre percepção pública da ciência, comunicação de ciência, comunicação de risco, divulgação e educação, política científica e tecnológica, entre outros temas. Uma parte significativa foi apresentada por pesquisadores brasileiros.

A importância da preocupação com a divulgação científica foi ressaltada nos dados apresentados por Carmelo Polino, pesquisador da Rede Iberoamericana de Ciência e Tecnologia (Ricyt), da Argentina, segundo os quais o Brasil tem o pior índice de interesse por ciência entre os países ibero-americanos.

Segundo Polino, pesquisa realizada recentemente em sete grandes cidades do Brasil, além de Colômbia, Argentina, Venezuela, Espanha, Panamá e Chile, com apoio da Ricyt, OEI, FAPESP e Fecyt, mostrou que no caso brasileiro (na cidade de São Paulo) 35% dos entrevistados revelaram não se interessar por ciência por não compreender os textos de conteúdo científico (em uma amostra de 1.076 habitantes). Os resultados da pesquisa serão publicados no Brasil em breve.

Percepção pública da ciência

As pesquisas de percepção pública datam da década de 1970 nos países desenvolvidos. Os ibero-americanos iniciaram trabalhos na área bem depois. No Brasil, a primeira pesquisa nacional de percepção pública da ciência data de 1987 e, posteriormente, foram realizadas mais duas: em 1992 e, mais recentemente, em 2006.

Em São Paulo, os trabalhos de percepção pública da ciência tiveram início em 2003, em uma pesquisa pioneira e internacional, conduzida pela Ricyt, OEI e FAPESP. Os dados deram base para um trabalho contido nos Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2004, publicado pela FAPESP.

Percepção social da ciência

Os trabalhos de percepção social da ciência são, em geral, realizados por meio de uma amostra da população consultada em pesquisas com questionários (surveys). "Ainda que existam dúvidas sobre a interpretação dos dados encontrados e que a metodologia de coleta dos dados e preparação do questionário esteja se consolidando, os resultados de um survey sobre percepção pública da ciência são um valioso insumo para a formulação de políticas públicas para ciência e tecnologia", disse Vogt.

Atualmente, os especialistas discutem a necessidade de se formular instrumentos de análise adequados e, mais do que isso, metodologicamente integrados para permitir uma análise mais profunda, que inclua comparações em nível nacional e internacional, conforme destacou Vogt na conferência de encerramento.

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