Thiago Romero - Agência Fapesp - 17/07/2008
O Ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, anunciou durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas, o processo de aquisição de um supercomputador para simulações avançadas das mudanças climáticas globais.
O supercomputador será instalado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), em Cachoeira Paulista, junto ao recém-inaugurado Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dirigido pelo climatologista Carlos Nobre.
Cenários de mudanças climáticas
Com ele será possível elaborar cenários futuros de mudanças climáticas de alta resolução para apoiar estudos de impactos e vulnerabilidade e fazer projeções dos extremos climáticos para os países da América do Sul. Para sua aquisição serão destinados R$ 35 milhões pela Finep e mais R$ 13 milhões pela FAPESP.
"Por ser muito complexa e envolver inúmeras variáveis, a área de estudos do clima evoluiu muito nos últimos anos e ainda tem muito que evoluir. Ela envolve uma dinâmica complexa não-linear que faz com que os pesquisadores, cada vez mais, tenham que aprender a fazer novos modelos para previsões de curto, médio e longo prazo", disse o ministro à Agência FAPESP.
Maior computador do Brasil
"Essa parceria entre os governos federal e estadual disponibilizará o maior computador do país para modelagem das mudanças climáticas. Só com esse tipo de instrumento computacional altamente potente será possível coordenar o clima como ninguém imaginou há 60 anos", afirmou.
De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, o Brasil já experimentou uma capacidade de modelagem climática global competitiva mundialmente, mas vem perdendo terreno nos últimos anos com os rápidos avanços das máquinas de supercomputação. "Com esta colaboração entre MCT e FAPESP, a expectativa é que o Inpe compre uma máquina que esteja, na área de mudanças climáticas globais, entre as cinco ou seis mais poderosas do mundo", disse.
Associação de pesquisadores
Brito Cruz informou que a FAPESP deverá anunciar, no começo de agosto, um edital voltado à área de mudanças climáticas que convidará pesquisadores do Estado de São Paulo a se associar para organizar projetos abrangentes e ousados sobre a criação do que chamou de "modelo climático brasileiro".
"Hoje devem existir cinco ou seis modelos climáticos globais com enfoque em detalhes relevantes de outras regiões do mundo. Nós precisamos de um modelo feito por cientistas do Brasil com ponto de vista nos impactos das mudanças climáticas em território nacional", afirmou.
"O edital integra um programa da FAPESP que terá um diferencial, uma vez que o Inpe teve uma atitude muito interessante, do ponto de vista institucional, ao se oferecer para sediar sua organização executiva, o que inclui a contratação de pessoal adicional para atender os pesquisadores das várias instituições de pesquisa do Estado. Nessa mesma época será lançado ainda um segundo edital para pesquisas em todas as áreas relacionadas com as mudanças climáticas globais", disse Brito Cruz.
Supercomputador de uso coletivo
Segundo Gilberto Câmara, presidente do Inpe, o supercomputador terá infra-estrutura de uso coletivo e, por isso, será usado pelo Inpe em previsões de tempo, clima e mudanças climáticas. Também estará à disposição de pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima), que inclui diversos institutos de pesquisa e universidades do país, e de cientistas vinculados ao programa de pesquisa sobre mudanças climáticas globais, que será lançado pela FAPESP.
"Os R$ 48 milhões representam o maior recurso que o Inpe já dispôs em toda a sua história para a compra de um supercomputador, que terá uma capacidade de processamento sustentado 50 a 60 vezes maior da que temos hoje", apontou Câmara, sinalizando que a iniciativa mudará a capacidade brasileira de projetar seu futuro.
Assumindo as rédeas do futuro
"O Brasil é um dos países, de acordo com o que alguns modelos já evidenciam, que mais poderão ter a sua população e economia prejudicadas pelas mudanças climáticas. Isso significa que devemos usar a capacidade científica disponível para tomar as rédeas do nosso futuro", assinalou.
Câmara disse à Agência FAPESP que a licitação para aquisição do supercomputador será lançada até o final do mês de julho. "Depois disso teremos um prazo de aproximadamente 60 dias para as empresas interessadas darem suas ofertas. Apesar de a tecnologia já existir, esse não é um computador de prateleira e precisa ser todo fabricado. A previsão é que a entrega da máquina ocorra em março de 2009", explicou.