MCT - 14/06/2010
Maior aquífero do mundo
O Brasil pode abrigar o mais importante reservatório de água subterrânea do mundo.
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) afirmam que o Aquífero Alter do Chão, na região Norte do País, é o maior manancial do planeta.
De acordo com os especialistas paraenses, a reserva seria mais significativa que o próprio Aquífero Guarani, até então, considerado o mais importante recurso hídrico descoberto no Brasil e na América do Sul.
Aquífero Alter do Chão
O professor Milton Matta, da Universidade Federal do Pará, faz parte da equipe que coordena os estudos do aquífero Alter do Chão. Segundo o geólogo, os dados sobre o aquífero do norte são muito raros na literatura.
A pesquisa mais sistemática começou no ano passado, liderada também pelos professores Francisco Matos de Abreu, André Montenegro Duarte e Mário Ramos Ribeiro, todos da UFPA; além do professor Itabaraci Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Segundo Matta, a extensão superficial do aquífero Guarani (1,1 milhão de Km2) é maior que a do Alter do Chão (ainda sem dados precisos), mas as espessuras deste são mais representativas, o que resultaria em maior volume de água.
"Dados preliminares apontaram para um volume de água superior a 86.000 km3", afirma. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, a reserva do Guarani está calculada em 30 mil km3.
"Essa descoberta representa um potencial estratégico de água para o Brasil e para a humanidade. Tem-se a certeza de que com a água deste aquífero pode-se abastecer a população mundial por algumas centenas de anos, além de proporcionar água suficiente para indústria e para a agricultura", sustenta.
Aproveitamento dos aquíferos
De acordo com os pesquisadores, os parâmetros hidrodinâmicos do aquífero Alter do Chão (que medem a capacidade de armazenar água e dessa água ser retirada por bombeamento) também indicam um grande potencial de armazenamento hídrico.
A argumentação é de que os tipos litológicos (rochas) podem ter melhores condições de armazenamento, circulação de água e captações muito mais baratas em relação ao Aquífero Guarani.
"Certamente, vai proporcionar obras de captação menos onerosas que o Guarani, que, além de mais profundo, possui uma espessa camada de rochas basálticas sobre ele. Isso dificulta e encarece a perfuração de poços. Precisamos ainda, nos nossos estudos, determinar com precisão razoável as profundidades e espessuras do Alter do Chão e analisar como esses elementos variam lateralmente", explica Milton Matta.
Segundo o doutor em hidrogeologia, que também trabalha com geologia estrutural, os pesquisadores paraenses avaliam essa superioridade do Alter do Chão em relação ao Guarani e às demais reservas do mundo, mas ainda se ressentem da falta de dados concretos para convencer a comunidade técnico-científica. A qualidade da água da reserva também deve também ser um novo foco nos estudos.
O Alter do Chão é responsável pelo abastecimento de várias cidades na Amazônia. Suas águas subterrâneas atendem quase todos os municípios do Oeste do Pará e do estado do Amazonas, inclusive a cidade de Santarém, "com águas de excelente qualidade", assegura Matta.
Dados sobre o aquífero da Amazônia
A hipótese é baseada em estudos ainda iniciais, mas os fortes indícios foram o suficiente para entusiasmar os cientistas. Depois dos estudos preliminares, os técnicos planejam preparar um projeto para apresentar ao Banco Mundial e a outros financiadores. A intenção é viabilizar um levantamento mais detalhado sobre o potencial do aquífero.
Pelo cálculo dos pesquisadores, um estudo mais aprofundado exigirá investimentos na ordem de 5 milhões de dólares. A primeira etapa do projeto seria destinada à sistematização de todo o material disponível, tabulações, análise de confiabilidade e interpretações desses dados; com prazo previsto de oito meses e custos em torno de R$ 300 a R$ 400 mil reais.
A segunda etapa, mais longa, com duração estimada de quatro anos, envolveria um conjunto de ações metodológicas, com trabalhos de campo, obtenção de dados primários e levantamentos de sensoriamento remoto, geofísicos, geológicos e hidrogeológicos.
Risco de contaminação
A principal preocupação dos pesquisadores é a dificuldade de se conseguir recursos para avançar com a pesquisa e estabelecer os critérios para utilização sustentável desse manancial.
"Sabemos que existem, na área sobre o Alter do Chão, muitos processos contaminantes que podem alcançar as águas do aquífero se nada for feito pelos poderes constituídos", alerta Matta.
"As articulações políticas já começaram a ser feitas, mas o que se precisa no momento é de divulgação desse projeto junto à sociedade, à classe técnico-científica e ao ambiente político, no sentido de se demonstrar a importância do Aquífero Alter do Chão para o País e para o futuro da humanidade", declara.