Redação do Site Inovação Tecnológica - 07/10/2019
Alternativa ao Bitcoin
Uma das principais críticas à criptomoeda Bitcoin e suas assemelhadas é o consumo astronômico de eletricidade necessário para garantir a segurança, o que gera uma pegada de carbono desproporcional à sua geração de valor.
Por isso, Rachid Guerraoui e colegas da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, estão propondo uma alternativa às atuais criptomoedas que apresenta um consumo quase zero de energia e ainda de código aberto.
Se parece bom demais para ser verdade, Guerraoui explica que tudo se resume ao nosso entendimento de o que torna as transações seguras.
O modelo tradicional de Bitcoin, descrito pela primeira vez em 2008 por Satoshi Nakamoto, baseia-se na solução de um problema chamado "consenso", para garantir a segurança das transações. Nesse modelo, todos em um sistema distribuído devem concordar com a validade de todas as transações para impedir que participantes mal-intencionados trapaceiem - por exemplo, gastando as mesmas moedas digitais duas vezes. Para provar sua honestidade e obter consenso, os participantes devem executar tarefas de computação complexas - e com uso intensivo de energia - que são verificadas pelos outros membros da rede.
Difusão Segura Bizantina
Em seu novo modelo, batizado de "Difusão Segura Bizantina", Guerraoui inverte a suposição de que todos os participantes são trapaceiros em potencial - em sua rede, todos os membros são "inocentes até que se prove o contrário".
"Nós adotamos uma abordagem minimalista. Percebemos que os participantes não precisam chegar a um consenso; eles apenas precisam evitar comportamentos maliciosos quando estes se manifestarem," explica ele. "Então, assumimos que todos são honestos, e se os participantes veem alguém tentando fazer algo errado, eles ignoram esse participante - e somente esse participante."
Com o requisito de consenso fora do caminho, o sistema de Difusão Segura Bizantina pode garantir transações seguras de criptomoedas em larga escala com um custo energético de praticamente zero - "aproximadamente equivalente ao da troca de e-mails," disse Guerraoui, e gerando apenas alguns gramas de CO2, em comparação com os estimados 300 kg para cada transação de Bitcoin.
A comunicação é a chave
Mas como os usuários podem ter certeza de que as transações da criptomoeda são seguras se não têm certeza de quem são os participantes maliciosos? Guerraoui responde que os participantes só precisam se comunicar.
"Se um participante mal-intencionado quiser efetuar um pagamento, por exemplo, este sistema não permitirá que ninguém aceite dinheiro desse participante até que uma amostra escolhida aleatoriamente confirme que o participante não enviou dinheiro a mais ninguém; caso contrário, o pagamento não será aceito," explica ele. "Basicamente, estamos dizendo que você só precisa trocar informações com uma amostra de envolvidos para implementar uma criptomoeda".
O elemento central da comunicação, ou difusão de informações, é o que dá nome ao sistema de transmissão confiável bizantina.
Além do menor custo e menor gasto de energia, o sistema de transmissão confiável não sacrifica nada em termos de segurança das transações, garante o pesquisador.
Limitações
Embora tenha uma gama de aplicações mais restrita do que o Bitcoin, sendo adequado apenas para criptomoedas, e não para transações mais complexas, como contratos inteligentes, o sistema pode gerenciar outras formas de moeda além do dinheiro.
"Ele pode ser usado para uma criptomoeda abstrata para a troca de mercadorias, como bicicletas em um programa de compartilhamento de bicicletas, por exemplo," sugere Guerraoui.
A equipe planeja lançar seu novo sistema até o final de 2020, na modalidade de código de código aberto para qualquer um baixar e usar.