Com informações da Unicamp - 15/05/2011
Ao lado do Gnu - esse bicho aí ao lado, um mamífero nativo do continente africano mas mundialmente conhecido como mascote do movimento software livre - o ativista Alexandre Oliva, da Fundação Software Livre da América Latina (FSFLA), é lacônico ao ser questionado sobre as dificuldades para adoção do software livre no país: "A grande barreira é a inércia das pessoas".
Alexandre participou do Fórum Permanente de Ciência e Tecnologia sobre Software Livre, organizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Gnu
"Grandes empresas, grandes bancos, todos já migraram para o software livre. Por quê? Porque tem a questão do custo e tem a questão da autonomia, da liberdade... Eles têm porte suficiente para falar: 'agora vai ser assim!' O pequeno consumidor é inerte, ele não consegue e fica preso a este modelo, que é um modelo de escravização", enfatiza Oliva.
Gnu é uma abreviatura recursiva que significa Gnu is Not Unix. Uma das licenças mais utilizadas para o software livre no mundo é a "General Public Licence", da FSF (Free Software Foundation), um projeto iniciado por Richard Stallman em 1984.
Algum tempo atrás, segundo Oliva, se afirmava que era mais difícil operacionalizar software livre.
"Mas não é. Há uma pesquisa na Malásia, por exemplo, com pessoas que nunca usaram computador. Deram um computador com software livre e um computador com software privativo para essas pessoas. Qual foi o mais fácil, na opinião delas? Software livre!", prega.
Tecnologia e direitos civis
Já o pesquisador Jorge Stolfi apontou para o surgimento de novas tecnologias como uma das principais causadoras de violações de direitos civis, atualmente.
De acordo com Stolfi, cujo tema da palestra tratou sobre direitos humanos e informática, toda vez que há uma mudança tecnológica com impactos na sociedade, direitos de cidadania estabelecidos de longa data voltam a ser ameaçados.
"Isso acontece porque aparecem novas circunstâncias que as leis e os costumes existentes não cobrem. Em geral, levam-se décadas até os cidadãos se darem conta dos problemas que essas tecnologias causaram, dos impactos que as tecnologias tiveram nos seus direitos fundamentais e, a partir disso, conseguirem mudar a legislação e os costumes, de modo a recuperar aqueles direitos que tinham sido perdidos. Esta tem sido uma história repetida a toda hora", reforçou.
Direitos e ética
Para a organizadora do evento, a professora Islene Calciolari Garcia, a adoção do software livre deve ser entendida como necessidade urgente em tempos de era digital. Segundo ela cada vez mais os direitos dos cidadãos são violados.
"O banco chega pra você e fala: eu quero instalar um software na sua máquina. Você não sabe que software é esse, mas você tem que instalar porque é para sua 'segurança'. E cada vez mais tem essa ideia de direitos que estamos perdendo na era digital, direitos de compartilhamento e tudo mais", exemplifica.
Já Carmen Zink Bolonhini afirmou que "a época da informática é uma época de revisão de valores". Para ela, "o surgimento do software livre veio movimentar, novamente, uma questão antiga, envolvendo a autoria. Isso é uma questão importante no campo da ética e dos relacionamentos interpessoais. Discussões em torno do software livre remetem a revisão de valores e questões jurídicas que dizem respeito diretamente a nossa vida em sociedade".