Fábio de Castro - Agência FAPESP - 01/08/2007
O número de empresas que fizeram inovação tecnológica no Brasil aumentou 8,4% em dois anos, passando de 28.036, em 2003, para 30.377, em 2005, de acordo com a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2005, divulgada nesta terça-feira (31/7) pelo IBGE.
Empresas brasileiras inovadoras
No período pesquisado a participação das companhias inovadoras no total das empresas industriais se manteve constante em relação às pesquisas anteriores: a taxa de inovação foi de 33,4% no triênio 2003-2005, contra 33,3% no triênio 2001-2003 e 31,3% no triênio 1998-2000.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, Andréa Salvador, o grande destaque da terceira edição da pesquisa foi o crescimento no número absoluto de empresas inovadoras.
"A taxa de inovação também aumentou, mas ela é um índice delicado, porque mascara o crescimento do número absoluto de empresas inovadoras. No Brasil, mais de 80% das empresas são pequenas e médias, exatamente as que menos inovam. Como há uma alta correlação entre inovação e tamanho da empresa, o número absoluto é mais sólido", disse a técnica do IBGE à Agência FAPESP.
Inovações em pequenas e médias empresas
Segundo a pesquisa, as taxas de inovação geral foram de 28,9% para as empresas pequenas com 10 a 49 empregados e de 79,2% para as grandes empresas (500 pessoas ou mais). "É preciso observar que, em 2002 e 2003, o universo de indústrias era de cerca de 84 mil empresas e esse número saltou para algo em torno de 91 mil em 2005. O grosso desse universo não faz muita inovação. Por isso, pode-se concluir que o aumento nas médias e grandes foi muito expressivo", afirmou.
As empresas industriais de médio porte (de 100 a 499 empregados) foram as que tiveram os aumentos mais significativos nas taxas de inovação entre os dois últimos triênios analisados (2001-2003 e 2003-2005).
Empresas de alta tecnologia
Uma das novidades da pesquisa do IBGE, realizada em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é a inclusão de empresas de serviços de alta intensidade tecnológica, como telecomunicações, informática e pesquisa e desenvolvimento (P&D). Somando-se as industriais às 2.418 empresas de serviços inovadoras, o Brasil teve, em 2005, 32,8 mil empresas que fizeram inovação tecnológica em produto ou processo.
"A partir de agora, o IBGE irá considerar as empresas de serviços em todas as edições da pesquisa. Identificamos que esses setores têm grau muito alto de inovação. Nas telecomunicações, 45,9% das empresas inovaram. Em informática, o percentual foi de 57,6%", disse Andréa.
A correlação entre tamanho e taxa de inovação, elevada nas empresas industriais, mostrou-se ligeiramente inferior nas de telecomunicações e informática, não sendo observada nas de P&D.
Investimento em inovação tecnológica
O esforço inovativo é medido pela participação dos gastos com inovação na receita. Os serviços de pesquisa e desenvolvimento, com nível de 68,9%, de informática (5,9%) e de telecomunicações (3,3%), realizaram esforços inovativos mais intensos do que a indústria (2,8%) em 2005.
Na informática, as atividades internas de P&D (2,33%), a aquisição de máquinas e equipamentos (1,27%) e o treinamento (0,69%) respondem pelas três maiores parcelas dos gastos com inovação no total da receita líquida de vendas. No setor de telecomunicações, os maiores percentuais de gasto no total do faturamento são com aquisição de software (0,9%), de máquinas e equipamentos (0,76%) e propaganda de lançamento das inovações no mercado (0,72%).
Inovações pelo país
Segundo a pesquisa, o estado de São Paulo reúne 35,3% das empresas industriais inovadoras. Do total do gasto industrial em inovação em todo o país, mais da metade (55,6%) foi efetuada pelas empresas paulistas.
"A indústria paulista é bastante heterogênea. Todos os setores estão representados ali, em um cenário bastante pulverizado. Mesmo assim, o estado concentra mais de um terço das indústrias inovadoras. Mas, quando olhamos o valor dos gastos, temos a verdadeira dimensão da representatividade da indústria paulista: mais da metade dos investimentos do país", disse Andréa.
Das 33 atividades industriais observadas nos períodos 2001-2003 e 2003-2005, 21 obtiveram aumento nas taxas de inovação. A parcela do faturamento das empresas industriais gasta com inovações também aumentou de 2,5% em 2003 para 2,8% em 2005.
Risco na inovação
Segundo a pesquisa 2005, os principais obstáculos para inovação apontados pelos empresários são elevados custos, riscos econômicos excessivos e escassez de fontes de financiamento.
"Independentemente de ter efetivamente inovado ou não, pudemos detectar problemas que as empresas tiveram no meio do caminho. Procuramos saber as dificuldades e formamos um ranking de obstáculos. Os destaques são elevado custo da inovação e risco econômico excessivo", destacou Andréa.
Como inovação sempre envolve riscos, expectativas mais favoráveis sobre o crescimento da economia doméstica e internacional influenciam positivamente as estratégias inovativas e, portanto, os investimentos em atividades desenvolvidas para inovar.
Mão-de-obra especializada
Houve ainda um aumento significativo do número de graduados e pós-graduados nas indústrias. "O montante foi 12,5% maior que o de 2003. Esse foi um dos aspectos mais interessantes da pesquisa. O fenômeno esteve ligado à ampliação do emprego nos setores de informática e telecomunicações", disse Andréa.
A pesquisa contabilizou profissionais ocupados em atividades internas de P&D: cerca de 3,7 mil nas empresas de telecomunicações; 14,7 mil nas empresas de informática; 23,5 mil nas instituições de pesquisa e desenvolvimento; e 58,4 mil pessoas nas empresas industriais.
No recorte por nível de qualificação, a pesquisa mostra que os setores de informática (77,8%) e de telecomunicações (74,7%) empregaram as maiores cotas de profissionais com nível superior. Na indústria, em 2003, os pós-graduados e graduados somavam 21,8 mil, em um total de 38,5 mil pessoas em equivalência à dedicação plena. Em 2005, das 47,6 mil pessoas ocupadas em P&D, cerca de 27,6 mil eram de nível superior.