Agência FAPESP - 10/08/2005
Em 1980, os pesquisadores brasileiros publicaram algo em torno de 1,9 mil artigos em periódicos científicos indexados e os sul-coreanos apenas 230. No mesmo ano, o Brasil registrou 23 patentes nos Estados Unidos, contra 13 da Coréia do Sul. Vinte anos depois, o quadro mudou bastante.
A produção científica brasileira não fez feio com os 9,5 mil artigos publicados em 2000, ainda que a contabilidade dos coreanos tenha sido melhor: 12,2 mil publicações. Mas no quesito patentes registradas nos Estados Unidos a derrota brasileira foi fragorosa: 98 contra 3.300.
As razões da arrancada asiática em direção à inovação já são bastante conhecidas: investimentos em educação, políticas públicas adequadas, incentivos fiscais, entre outras. Mas, no quadro comparativo, chama a atenção a discrepância entre os resultados da produção científica brasileira desenvolvida nas universidades e institutos de pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos e processos nas empresas.
O tema esteve em pauta na Conferência do Sudeste de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada entre os dias 3 e 4 de agosto, em Belo Horizonte, a partir da qual serão elaboradas propostas para a Conferência Nacional, agendada para novembro, em Brasília.
A distância entre as universidades e institutos de pesquisa e as empresas pode ser medida pelo baixo número de pesquisadores contratados no setor privado: 23% contra os 54% da Coréia do Sul. Quando, no entanto, esses dois setores trabalham em parceria os resultados são positivos.
Um dos exemplos clássicos do sucesso da interação universidade e empresa para a inovação é a tecnologia da águas profundas implementada pela Petrobras com o apoio de 129 grupos de pesquisa em todo o país, como lembrou Evandro Mirra, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). "Outro exemplo é o do Programa Genolyptos, do Ministério da Ciência e Tecnologia, que reúne 12 empresas, sete universidades e três centros de pesquisas", disse.
A Lei de Inovação, promulgada no início deste ano, poderá facilitar a interação. Mas ela pode não ser suficiente para consolidar parcerias. "A universidade é extremamente conservadora. Os currículos são engessados e não se cria um ambiente propício para o empreendedor", avaliou José Arana Varela, pró-reitor de pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do Conselho Superior da FAPESP, sugerindo uma ampla reavaliação dos currículos. "Não formamos pesquisadores com a visão de tecnologia e não protegemos o nosso conhecimento."
Para Evaldo Vilela, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), a interação com as empresas também dependerá de uma maior agilidade dos institutos de pesquisa já que o conhecimento tecnológico "tem prazo de validade". Cita o exemplo do agronegócio, um dos principais focos de pesquisas da UFV.
"Temos 62 milhões de hectares no agronegócio e potencial para chegar a 170 milhões. Há boas chances com o biocombustível ou com a exportação de carnes bovina e suína, se soubermos aproveitar", disse. Ressalta, no entanto, que é preciso investir em sanidade animal e vegetal, controle de pragas, fertilizantes, máquinas e equipamentos. "Mas é fundamental garantir fluxo de recursos para essas pesquisas. Em melhoramento animal, se parar o fluxo perde-se tudo."
Na avaliação de Altair Rio Neto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e consultor de desenvolvimento tecnológico da Embraer, os institutos de pesquisa tecnológica têm o desafio de "negociar as tecnologias do século 21" e deveriam, portanto, ser sustentados pelo governo.
Observou que já existem cinco formas básicas de cooperação entre universidades, institutos de pesquisa e empresas, que vão desde o fornecimento de capital humano para integrar as equipes já existentes nas empresas até as parcerias em iniciativas como o Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, ou em projetos financiados por fundos setoriais. "Mas ainda falta uma proposta: o apoio direto do governo a programas estratégicos na empresa."