Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/01/2003
Que a água apaga o fogo ninguém duvida. Mas a forma de lançar a água sobre as chamas pode fazer uma grande diferença. Tanto que o próximo vôo do ônibus espacial Colúmbia, previsto para ser lançado no próximo dia 16, levará um experimento que visa encontrar uma forma de substituir os danosos compostos químicos e os volumosos jatos d'água utilizados para apagar incêndios, que geralmente danificam quase tanto quanto o próprio fogo.
"A indústria de combate a incêndios está em busca de uma nova ferramenta que não utilize os perigosos químicos ou combata o fogo com enormes quantidades de água que causam grandes danos às propriedades," disse Mark Nall, diretor de desenvolvimento de produtos da NASA. "Levando este experimento comercial na missão Colúmbia, a NASA está ajudando a indústria a projetar um sistema de combate a incêndios de baixo custo e ambientalmente correto."
Até recentemente, o combate ao fogo com agentes químicos era feito a partir de agentes halogenados, compostos químicos à base de bromo. O combate ao fogo com químicos é exigido em locais onde a água não pode ser utilizada, como em instalações elétricas, de computação, bibliotecas ou arquivos de documentos etc.Mas esse material foi praticamente banido, por ser danoso à camada de ozônio. O experimento levado a borda da Colúmbia irá justamente buscar um substituto para os agentes halogenados.
"O ônibus espacial irá testar um dispositivo semelhante a um umidificador, que produz gotas d'água de cerca de 20 micra de diâmetro," disse o Dr. Angel Abbud-Madrid, cientista da NASA. "Isto é cerca de um décimo do diâmetro de um fio de cabelo humano, em contrapartida a gotas produzidas por aspersores convencionais, que medem cerca de um milímetro, ou cerca de 50 vezes maiores do que nossas gotas."
Sistemas de aspersão de água criam uma névoa e não jatos d'água. A névoa absorve calor e substitui o oxigênio quando a água evapora, evitando a propagação do fogo. Isto é particularmente importante quando o fogo se localiza em um compartimento fechado de um navio, avião ou mesmo no ônibus espacial.
Talvez pareça um exagero pesquisar-se a melhor forma de se construir um aspersor de água a bordo do ônibus espacial. Para entender o que está envolvido, contudo, basta ver que a indústria de equipamentos de combate a incêndio movimenta cerca de US$2 bilhões de dólares ao ano apenas nos Estados Unidos. E a legislação e o público pressionam no sentido da adoção de práticas ambientalmente corretas.
O teste do sistema no espaço deve-se ao fato de que é mais fácil observar-se a interação entre a chama e a água ou, como preferem os cientistas, a física do fogo, na ausência de gravidade. Na Terra, a força da gravidade faz com que o ar quente, mais leve, suba, gerando correntes de ar que dificultam a observação sobre como exatamente a água interage com a chama para apagá-la. Esse fenômeno, chamado convecção, faz com que as chamas tenham o formato alongado. Ao subir, o ar quente situado no alto da chama cria uma área de pressão mais baixa, que faz com que a chama espiche para cima. No espaço, porém, sem o efeito da convecção, a chama forma um domo perfeito.
Experimentos preliminares dão indicações de que possa ser necessário apenas um décimo da água hoje utilizada para efetivamente apagar as chamas de um incêndio.