Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/03/2007
É comum ouvir ou ler frases do tipo: "o processador é o cérebro do computador." Apesar de uma boa metáfora, até agora a maior proximidade que nosso cérebro e os processadores dos computadores haviam alcançado não passava muito dessa figura de linguagem.
Agora, graças a pesquisas no campo da neurociência, isto está começando a mudar. Cientistas do MIT utilizaram um modelo computacional de como o nosso cérebro processa as informações visuais para resolver um problema real, mas extremamente complexo: reconhecer objetos em uma rua movimentada.
Inteligência Artificial biologicamente inspirada
A julgar por esta primeira experiência, o impacto que a neurociência pode exercer sobre a ciência da computação, e especificamente sobre a inteligência artificial, é enorme. Os pesquisadores ficaram surpresos com a qualidade dos resultados.
"As pessoas vêm falando sobre os computadores imitarem o cérebro por muito tempo," comenta Tomaso Poggio, coordenador da pesquisa. Foi a possibilidade de se criar a inteligência artificial a partir do funcionamento do cérebro humano que motivou Alan Turing nos anos 1940. "Mas, nos últimos 50 anos, a ciência da computação e a inteligência artificial têm se desenvolvido de forma independente da neurociência. O nosso trabalho é ciência da computação biologicamente inspirada," afirma ele.
O programa foi capaz de aprender a identificar os objetos que comumente ocorrem em uma rua, como pessoas, carros, bicicletas e até árvores na calçada. Quando comparado com os sistemas de visão artificial tradicionais, muito utilizados na indústria, o modelo biologicamente inspirado mostrou-se extremamente versátil.
Por exemplo, programas projetados para o reconhecimento de faces geralmente têm um desempenho muito pobre se colocados para reconhecer carros. Seus algoritmos os capacitam para identificar classes muito específicas de objetos. Já o novo programa consegue aprender a detectar objetos muito diferentes entre si.
Aplicações não artificiais
Embora a inteligência artificial por si só seja um campo de pesquisas de grande importância, esta união com a neurociência deverá ter grande impacto sobre o campo da visão artificial, ou visão computacional.
O novo programa deverá ter um impacto a curto prazo em tarefas como a assistência a motoristas, o resgate de sobreviventes em áreas de desastres naturais e a visão robótica. Todos esses campos têm sido grandemente incentivados por meio de prêmios que procuram incentivar a criação de veículos robóticos capazes de se guiar de forma autônoma.
Outras possíveis aplicações são sistemas de busca de imagens pelo conteúdo visual e análises de imagens médicas.
Neurociências
No lado da neurociência, a pesquisa permitirá a construção de próteses sensoriais, capazes de replicar os cálculos feitos por nervos danificados da retina e tratar outras disfunções cerebrais.
A esquizofrenia, por exemplo, é uma disfunção no cérebro que causa distorções na percepção visual, mas até agora ninguém conhece as bases neurobiológicas dessas distorções.
Com o desenvolvimento deste programa, a inteligência artificial talvez então possa retribuir o "favor" agora recebido da neurociência e dar insights sobre a solução desses problemas.