Baseado em artigo de Kendall Madden - 04/08/2005
Da Paciência ao Banco Imobiliário, do Mahjong ao Monopólio, os jogos têm entretido milhões. E, com suas regras tão diversas, eles também estão se tornando uma ferramenta perfeita para a exploração de conceitos no campo da Inteligência Artificial.
Agora, cientistas da Universidade de Stanford, Estados Unidos, estão querendo utilizar os jogos para criar uma nova forma de programação de computadores. Não mais programas que contenham internamente todos os passos a serem seguidos, mas programas que consigam aprender de verdade.
"Programas que pensem melhor deverão ser capazes de ganhar mais jogos," afirma Michael Genesereth em um artigo publicado no último exemplar da revista AI Magazine. O conceito que ele e seus colegas propõem é radicalmente diferente daquele utilizado para a programa do IBM Deep Blue, que derrotou o campeão mundial de xadrez, Gary Kasparov, em 1997.
"O computador apenas segue uma receita que foi dada a ele," diz Genesereth, a respeito do Deep Blue. As aplicações de inteligência artificial nesses casos são limitadas, já que o computador não "pensa" por si próprio. O que um programa assim demonstra "é a inteligência do programador e não do programa," completa ele.
A proposta dos cientistas é a criação de programas que sejam capazes de aprender as regras e jogar qualquer jogo, mesmo um do qual o programador nunca tenha ouvido falar. Isto é uma espécie de retorno ao início da era dos computadores, quando os cientistas acreditavam que seria possível construir máquinas que recebessem diferentes "inputs" e os processassem, apresentando uma solução que seria uma espécie de "decisão independente". Mas a história mostrou que computadores assim seriam complexos demais para serem projetados e construídos, e o mundo da informática tornou-se o que conhecemos hoje, com programas individuais específicos para cada tipo de tarefa.
"A melhor parte é sentar-se frente a um jogo que você nunca jogou antes e ter que descobrir como ele funciona," diz Genesereth. Hoje, nenhum programa de computador é capaz de fazer isso.
Mas os cientistas estão trabalhando nisso. Por enquanto, seus programas estão sendo projetados para enfrentar outros programas. Cada estudante estuda os princípios da nova programação e desenvolve seu próprio programa. A seguir é feita uma competição, verificando-se qual consegue derrotar os outros; este é definido como o melhor enfoque. Até o momento, os cientistas descobriram que os melhores programas são os mais simples. Quando mais complexo o programa, pior é o seu "aprendizado".
A nova técnica de programação é chamada de GGP - "General Gaming Programming", ou programação universal de jogos. Mas o conceito tem aplicações bem mais amplas do que o mundo das diversões. Um programa comercial, por exemplo, poderá simplesmente aprender a lidar com novas regras, como taxas de impostos ou de juros, ou novas regras legais.