Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/07/2005
Bioluminescentes
Dez novas espécies de fungos bioluminescentes coletadas em São Paulo e Mato Grosso do Sul foram descobertas pelo grupo do professor Cassius Vinicius Stevani, do Instituto de Química (IQ) da USP.
Uma delas, Gerronema viridilucens, foi usada com êxito para avaliar a toxicidade de metais e compostos orgânicos.
No futuro, o fungo servirá como biossensor em análises toxicológicas de solos contaminados.
Fungos que emitem luz
Stevani relata que em todo o mundo são conhecidas apenas 42 espécies de fungos que emitem luz.
"A pesquisa começou há três anos, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, em Iporanga (SP), a partir do relato de moradores da região ao biólogo João de Godoy, do Instituto de Botânica (IBot) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo", conta.
Posteriormente, a coleta foi estendida a uma área de mata ciliar em Costa Rica (MS). "O Gerronema viridilucens já foi identificado e publicado, seis espécies serão descritas num artigo científico e três precisam de mais amostras para avaliação taxonômica."
O professor explica que a espécie é encontrada na casca de árvores Eugenia fluminensis, da família das mirtáceas, a mesma da pitangueira e jabuticabeira. "Este fungo cresce só em árvores vivas e emite luz na parte inferior do píleo ('chapéu' do cogumelo), ou seja, onde estão as lamelas, produtoras de esporos", explica.
Sensor toxicológico
Para usar o fungo em análises toxicológicas, foram necessários dois anos para obter culturas da espécie em laboratório, com ajuda da professora Marina Capelari, do IBot, que a identificou com Dennis Desjardin, professor da San Francisco State University (EUA).
Segundo Stevani, o fungo em cultura emite uma quantidade de luz que pode ser medida. "Este nível é comparado com a emissão 24 horas após a placa com a cultura ser exposta a diferentes concentrações de um agente tóxico", explica. A aplicação do poluente diminui a intensidade da luz. "Com os dados, é calculado o parâmetro toxicológico EC50, que aponta a quantidade do composto necessária para reduzir a luminosidade do fungo à metade. Quanto menor o valor de EC50, maior a toxicidade. "
No IQ, o Gerronema viridilucens foi usado como biossensor da toxicidade de cádmio, cobre e pentaclorofenol. "Outros metais e compostos orgânicos serão testados para dar uma visão geral sobre sua toxicidade nos fungos", planeja o professor. "Depois dos testes com substâncias puras, serão usadas amostras de solo contaminado, e no futuro placas com o fungo servirão para melhorar e planejar novos fungicidas."
Biossensores
O grupo de Stevani conta com os alunos Luiz Fernando Mendes e Giovanna Testoni, que desenvolvem os biossensores. O mecanismo químico da bioluminescência dos fungos, que ainda é desconhecido, é estudado por Anderson de Oliveira e Karina Martins.
"A coleta é difícil, pois só pode ser feita à noite e apenas entre dezembro e março, durante a lua nova", ressalta o professor. "O corpo de frutificação dura de 24 a 48 horas, perdendo luminosidade e servindo de alimento a caramujos e larvas de moscas."
O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e conta ainda com a ajuda dos professores Marilene Demasi (Instituto Butantã), Silvio Prada e Patricía Sartorelli (UNIFIEO).