Gemini - 03/11/2005
Trocando o bisturi pela luz
Os dias do bisturi podem estar sendo contados mais rapidamente do que se imagina - ao menos quando ele é utilizado para examinar áreas nas camadas superiores da pele.
Você pode ter um minúsculo ferimento em sua mão que não cicatriza, uma grave queimadura no peito - ou até mesmo uma lesão na retina. O seu médico não consegue dizer-lhe a seriedade que esses ferimentos apresentam abaixo da superfície.
Para isso ele necessita de amostras. O que significa utilizar-se um bisturi, o que é sinônimo de dor e até mesmo de algum risco adicional à sua saúde.
Mas agora há uma esperança: um método mais avançado e totalmente indolor, capaz de analisar abaixo da superfície da pele, que utiliza unicamente... a luz.
A resposta da luz ao ultrasom
Já há algum tempo, os médicos dispõem de excelentes técnicas para ver o que acontece no interior de nossos corpos. Raios-X, campos magnéticos e ondas de som são técnicas excepcionais, cada uma em seu campo de atuação.
Entretanto, todas elas têm suas deficiências - especialmente quando se trata de criar uma imagem precisa do que está acontecendo imediatamente abaixo da pele.
Os raios-X não conseguem detectar os estágios iniciais do câncer de pele. Campos magnéticos não mostram a profundidade dos ferimentos por baixo de uma queimadura. E ondas de som aplicadas a nossos olhos não conseguem reproduzir as estruturas do olho, porque sua resolução é muito baixa.
Mas ondas de luz podem ser uma alternativa muito melhor. O corpo humano contém uma grande variedade de estruturas que oferecem ótimos contrastes quando fotografados com luz.
Há muito tempo os pesquisadores tentam descobrir como as ondas de luz podem penetrar no corpo humano e sair dele de forma funcional.
Agora eles parecem estar às margens de uma solução: uma nova técnica de imageamento no diagnóstico médico, chamada Tomografia de Coerência Óptica (OCT: Optical Coherence Tomography).
Inofensivo e sem dor
Digamos que você tenha um ferimento no seu braço que necessite de um exame mais detalhado. Com um aparelho OCT (Tomografia de Coerência Óptica), bastará colocar seu braço sob o aparelho e um feixe de luz branca será emitido sobre o ferimento.
A luz será refletida e coletada por um sensor, capaz de traduzir a informação em imagens. As imagens serão mostradas na tela de um computador. Elas mostrarão a estrutura da sua pele e um olho treinado será capaz de distinguir entre o tecido danificado e o tecido sadio. Mas esse cenário ainda pertence ao futuro.
O equipamento OCT já existe, mas ele ainda não está pronto para uso clínico. A maior parte do que se conhece atualmente sobre a OCT continua confinado nos laboratórios de pesquisas de várias partes do mundo.
Terapia fotodinâmica
Vários pesquisadores estão voltados para a mensuração das estruturas dos tecidos, mas Trude Støren, pesquisadora do instituto NTNU, da Noruega, está trabalhando na coleta de informações sobre características especiais dos tecidos.
"Aqui estamos pesquisando o uso do OCT no tratamento fotodinâmico do câncer. Este método já está sendo utilizado. Nossa tecnologia poderá melhorá-lo ainda mais," afirma a física.
A terapia fotodinâmica têm rendido bons resultados no tratamento do câncer de pele. Primeiro, uma pomada contendo substâncias sensíveis à luz é passada sobre a pele e, após alguns instantes, uma lâmpada é dirigida sobre a área.
Quando a substância é exposta à luz, ela libera oxigênio, que mata todas as células cancerosas daquela região. Um dos desafios até aqui tem sido determinar exatamente quando iluminar as substâncias.
Essas substâncias são gradualmente absorvidas pela pele, e elas devem estar nos pontos exatos em relação ao tumor cancerígeno para poderem ser eficazes.
É aí que entra o OCT. A Dra. Støren utiliza coágulos coloridos para testar como os raios de luz devem ser ajustados, a qualidade das imagens que eles fornecem a diversas profundidades e a intensidade da radiação que é necessária para gerar as imagens que ela deseja. Entretanto, as diversas camadas da pele difundem a luz de forma diferente, o que as torna muito mais difíceis de serem fotografadas.
Exames com luz
A técnica OCT só fornece imagens claras e detalhadas até alguns poucos milímetros de profundidade, o que a torna mais adequada para fotografar tecidos nas camadas superiores da pele.
Entretanto, a técnica possui uma carta na manga: a luz pode ser facilmente transmitida para equipamentos clínicos, como microscópios, endoscópios de fibras ópticas, cateteres e agulhas.
Isso acrescenta um mundo totalmente novo ao exames médicos, no qual os médicos poderão examinar tudo, de vasos sanguíneos individuais até órgãos inteiros, como a bexiga, por exemplo.
"O entusiasmante de pesquisar novos métodos é que podem aparecer aplicações totalmente novas," conclui a Dra. Støren.