Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/10/2003
Químicos da Universidade de Rice (Estados Unidos) demonstraram que montagens desordenadas de nanofios de ouro e moléculas orgânicas condutoras de eletricidade podem funcionar como memórias não voláteis, um tipo de memória que não perde os dados quando o computador é desligado.
"Uma grande parte do custo associado com a criação de circuitos integrados vem da tediosa tarefa necessária para garantir que cada um dos milhões de circuitos no chip sejam colocados no lugar exato," explica James Tour, um dos autores de um artigo que deverá ser publicado no exemplar de 29 de Outubro no Journal of the American Chemical Society. "Nossa pesquisa mostra que uma precisão ordenada não é um pré-requisito para computação. É possível fazer circuitos de memórias em sistemas desordenados."
É a primeira vez que a auto-montagem de componentes eletrônicos moleculares é utilizada para criar dispositivos complexos que desempenham funções básicas de computação. Batizadas de Nanocélulas, os dispositivos funcionam como memórias reprogramáveis, mantendo o estado nelas gravado por mais de uma semana, a temperatura ambiente.
As memórias dos computadores atuais, chamadas DRAM ("Dynamic Random Access Memory") conseguem manter os dados nelas gravados por apenas um centésimo de segundo. Para manter os dados sempre prontos para utilização pelo computador, as informações têm que ser continuamente renovadas a cada milésimo de segundo.
Uma memória que consiga guardar os dados por uma semana ou mais, além do barateamento e simplificação dos computadores, permitirá a construção de equipamentos com inicialização ("boot") instantânea. O usuário poderá então desligar seu micro e, ao religá-lo, ter todo o sistema operacional funcionando, já carregado na memória, assim como todos os programas, no exato estado em que estavam quando o computador foi desligado.
As Nanocélulas consistem de um conjunto de ilhas descontínuas de uma película de ouro depositada por vapor sobre um retângulo de dióxido de silício medindo 40 micrômetros de comprimento por 10 micrômetros de largura. Mergulhando a placa de silício em uma solução líquida de moléculas orgânicas e nanofios de ouro, o pesquisador conseguiu criar ligações condutoras entre as ilhas de ouro. Dez contatos de ouro espaçados cerca de 5 micrômetros entre si, situados na borda da Nanocélula, encarregam-se de transmitir os sinais elétricos entre o dispositivo e o mundo exterior. O tamanho da placa de silício não é um fator crítico, o que significa que a tecnologia pode ser desenvolvida para trabalhar com dimensões muito menores.
Comparando com as tecnologias atuais de construção de semicondutores, baseadas em materiais óxido-metálicos, as Nanocélulas têm o potencial para reduzir o tamanho dos componentes e dos seus custos de fabricação em várias ordens de magnitude. O pesquisador espera conseguir agora desenvolver seu método utilizando as técnicas de litografia que atualmente são utilizadas na fabricação de chips, que poderia vir a facilitar o uso efetivo das Nanocélulas.