Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/11/2013
É ou não é?
Poucas descobertas científicas mostraram-se tão controversas quanto o bóson de Higgs.
A "partícula-campo" surgiu como "um bóson, talvez de Higgs", e logo foi promovida para "um bóson de Higgs" (mas não "o").
Depois disso, bastou o tempo, mas nenhum novo artigo científico, para que os artigos indefinidos e os pudores fossem esquecidos, e a coisa passasse a ser conhecida como "o" autêntico e verdadeiro "bóson de Higgs".
É claro que a aproximação do anúncio do Prêmio Nobel e a crescente preocupação dos físicos em mostrar que os investimentos de bilhões de dólares dão resultados também contribuíram para essa mudança "sutil".
O problema é que não se espera muitas revelações mais sobre o assunto vindas do LHC, mesmo quando ele voltar a funcionar em 2015, eventualmente com a potência inicialmente projetada - 14 teraelétron-Volts (TeV) - que não foi alcançada até agora.
Assim, os físicos já estão se antecipando: eles querem um acelerador ainda maior, muito maior do que o LHC.
Michael Peskin, do acelerador SLAC, nos Estados Unidos, apresentou a proposta do VLHC (Very Large Hadron Collider, colisor de hádrons muito grande).
Realmente grande: se for construído, o VLHC terá um anel de 100 quilômetros, em comparação com a circunferência de 27 km do LHC, eventualmente ajudando os norte-americanos a recuperar o terreno perdido na área.
Com tanto espaço para aceleração, espera-se que as partículas atinjam energias ao redor dos 100 TeV.
Explicações da descoberta
O VLHC é apenas uma parte da agenda da comunidade global da física de partículas.
Outras prioridades incluem a atualização do LHC, já em curso, planos para construir o Colisor Linear Internacional, no Japão, e um projeto para estudar feixes de neutrinos de alta intensidade no Laboratório Fermi, nos EUA.
Segundo reportagem publicada pela revista Nature, contudo, ainda faltam justificativas para a construção de um acelerador tão grande.
A descoberta do bóson de Higgs deu suporte à ideia de que as partículas adquirem massa ao interagir com um campo de Higgs. Contudo, muitos aspectos da "descoberta" ainda estão por ser explicados - por exemplo, por que a massa da partícula de Higgs é tão grande.
Uma forma de explicar isso seria através da teoria da supersimetria, que propõe que as partículas conhecidas são acopladas com outras mais pesadas que poderiam ser observadas em colisores de partículas ainda maiores.
O problema é que o LHC não detectou qualquer indício de supersimetria.
Os defensores do LHC argumentam que, até o final desta década, pode ser que surja algum indício que dê apoio à supersimetria e, assim, ajudar a justificar a construção do VLHC.
Sucessor do LHC
Mas o próprio CERN, que dirige o LHC, parece ter saído na frente.
O instituto já possui planos para construir um sucessor do LHC, que provavelmente seria instalado sob o Lago Léman, na fronteira entre a França e a Suíça.
Também com uma circunferência entre 80 e 100 km, ele atingiria energias semelhantes (100 TeV) e, se começar a ser construído em 2020, como o CERN propõe, ficaria pronto por volta de 2035, quando se espera que o LHC esteja chegando ao final da sua vida útil.
Teorias à parte, segundo a Nature, um colisor de nova geração teria que custar menos de US$10 bilhões para ser "politicamente plausível".
Ou, talvez, a disputa pela supremacia no campo da física entre europeus e norte-americanos seja motivo suficiente para justificar gastos maiores.