Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2018
Vírus fabricante de nanopartículas
Um vírus pode ser o operário ideal da nanotecnologia. E não é um operário qualquer - está mais para um vírus ourives, um artesão que fabrica fios e gotas de ouro.
As nanopartículas de ouro estão entre os materiais mais utilizados pela nanotecnologia e pela biotecnologia devido às suas propriedades elétricas, fotônicas, catalíticas etc, sem contar sua resistência à corrosão e sua biocompatibilidade.
E não se preocupe com o preço: a quantidade de ouro nas nanopartículas é tão pequena que o processo produtivo é muito mais caro do que o material utilizado.
O problema é que não é fácil fabricar nanopartículas de forma consistente - sempre com o mesmo diâmetro ou com formatos precisos, por exemplo.
Por isso, Tam Triet Ngo-Duc, da Universidade da Califórnia em Riverside, resolveu encontrar um operário que pudesse manipulá-las em igualdade de dimensões - um vírus.
Vírus operário
O "treinamento" do nano-operário consistiu em modificações genéticas que tornaram o vírus bacteriófago M13 interessado em capturar átomos de ouro e organizá-los em esferoides, cada um deles medindo poucos nanômetros de diâmetro.
Os resultados foram tão bons - a qualidade e a consistência das nanopartículas de ouro produzidas - que a equipe já fala em usar o mecanismo para fabricar componentes eletrônicos.
"A natureza vem montando nanoestruturas complexas e altamente organizadas há milênios, com precisão e especificidade muito superiores às abordagens tecnológicas mais avançadas. Ao entender e tirar proveito desses recursos, essa extraordinária precisão em nanoescala pode ser usada para adaptar e construir materiais altamente avançados com desempenho anteriormente inatingível," disse a professora Elaine Haberer, coordenadora da equipe.
Braços dos vírus
Os "braços" desses vírus artesãos são seus receptores, moléculas em sua superfície que apresentam afinidade com outras moléculas, permitindo que o vírus ligue-se a um hospedeiro grudando em moléculas compatíveis em suas células - nesse caso às bactérias que ele caça.
Modificando geneticamente os receptores para torná-los afeitos aos íons de metais usados na eletrônica, a equipe define quais íons eles desejam que "grudem" no vírus, que acabam por envolvê-lo e criar um objeto do mesmo tamanho e forma que o vírus.
A vantagem do bacteriófago M13 é que, no processo de infecção, ele se transforma em um esferoide quando em contato com água e clorofórmio, permitindo criar estruturas com formato muito preciso - outros vírus são mais "maleáveis" e não muito afeitos a assumir formatos específicos.
"A novidade do nosso trabalho está na otimização e demonstração de um molde viral que supera as restrições geométricas associadas à maioria dos outros vírus," disse Haberer. "Usamos um processo de conversão simples para fazer o vírus M13 sintetizar nanocélulas esféricas inorgânicas com dezenas de nanômetros de diâmetro, além de nanofios com quase 1 micrômetro de comprimento".
A técnica deverá ser usada para produzir nanoestruturas usadas em eletrodos de bateria, supercapacitores, sensores, ferramentas biomédicas, materiais fotocatalíticos e fotovoltaicos.