Redação do Site Inovação Tecnológica - 29/09/2020
Tudo se ajeita
No mês passado, dois físicos norte-americanos chegaram à conclusão que as viagens no tempo estariam liberadas porque o viajante não conseguiria mudar a história.
Eles usaram um simulador quântico para mostrar que a vida real parece se rearranjar para consertar qualquer problema que o viajante no tempo tenha causado, impedindo os paradoxos.
Agora, Germain Tobar e Fabio Costa, da Universidade de Queensland, na Austrália, chegaram à mesma conclusão usando um caminho totalmente diferente: uma demonstração matemática.
No princípio de todo o problema estão os chamados paradoxos da viagem no tempo.
"Digamos que você viajou no tempo na tentativa de impedir que o paciente zero da covid-19 fosse exposto ao vírus. No entanto, se você impedisse esse indivíduo de ser infectado, isso eliminaria a motivação para você voltar no tempo e impedir a pandemia. Este é um paradoxo - uma inconsistência que muitas vezes leva as pessoas a pensar que a viagem no tempo não pode ocorrer em nosso Universo.
"Alguns físicos dizem que é possível [viajar no tempo], mas em termos lógicos é difícil de aceitar porque isso afetaria nossa liberdade de fazer qualquer ação arbitrária. Significaria que você pode viajar no tempo, mas não pode fazer nada que possa causar um paradoxo," explicou o professor Costa.
No entanto, os dois pesquisadores chegaram a uma demonstração matemática que mostra que não precisa ser assim, que não há uma dicotomia necessária entre viajar no tempo e gerar paradoxos ou viajar no tempo e não ter escolhas que gerem paradoxos.
Sem paradoxo e com livre arbítrio
Segundo os cálculos, é possível que os eventos se ajustem para serem logicamente consistentes com qualquer ação que o viajante do tempo faça.
"No exemplo do paciente zero com coronavírus, você pode tentar impedir que o paciente zero seja infectado, mas, ao fazer isso, você pegaria o vírus e se tornaria o paciente zero, ou outra pessoa se tornaria. Não importa o que você fizesse, os eventos importantes seriam apenas recalibrados ao seu redor. Isso significaria que - independentemente de suas ações - a pandemia ocorreria, dando ao seu eu mais jovem a motivação para voltar ao passado e detê-la," explicou Tobar.
Assim, a exemplo do que a outra equipe concluiu com seu simulador quântico, a matemática também mostra que, por mais que um paradoxo pareça ser logicamente possível, os eventos sempre se ajustarão, evitando qualquer inconsistência.
"A gama de processos matemáticos que descobrimos mostra que viajar no tempo com livre arbítrio é logicamente possível em nosso Universo sem qualquer paradoxo," reforçou Tobar.
A matemática da viagem no tempo
Os dois físicos se depararam com esse rearranjo de eventos na viagem do tempo trabalhando em um campo que aparentemente nada tem a ver com o assunto: a dinâmica.
"A dinâmica clássica diz que, se você conhece o estado de um sistema em um determinado momento, isso pode nos contar toda a história do sistema. Isso tem uma ampla gama de aplicações, desde nos permitir enviar foguetes para outros planetas até modelar como os fluidos fluem. Por exemplo, se eu souber a posição e a velocidade atuais de um objeto que cai sob a força da gravidade, posso calcular onde ele estará a qualquer momento," explicou Tobar.
O problema é que a dinâmica clássica não se dá bem com a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, que prevê os paradoxos temporais e até loops no tempo - se esses paradoxos existirem, então os cálculos da dinâmica clássica caem por terra. Assim, as duas teorias não podem estar simultaneamente corretas.
O trabalho da dupla consistia justamente em encontrar uma solução matemática para conciliar a dinâmica clássica com a Relatividade Geral.
"A matemática confere - e os resultados são coisa de ficção científica," concluiu Costa.
É claro que esta conclusão está longe de ser definitiva. Pesquisando buracos negros, ou seja, com uma abordagem totalmente diferente, uma equipe internacional de físicos concluiu recentemente que você não vai poder voltar no tempo.