Redação do Site Inovação Tecnológica - 07/12/2020
Constante mágica
Uma equipe de físicos franceses acaba de realizar a medição mais precisa até hoje da constante de estrutura fina, que caracteriza a força da interação entre a luz e as partículas elementares com carga elétrica, como os elétrons.
Dentre todas as constantes fundamentais da natureza, a constante de estrutura fina - representada pela letra grega alfa (α) - é especial porque ela não tem dimensão ou unidade; é um número puro que parece ser extremamente importante para o Universo porque aparece por todos os lados.
Ao caracterizar a magnitude da força eletromagnética, seu tradicional valor de 1/137 aparece em múltiplos ou divisores em quase tudo o que se refere aos átomos, moléculas e outras partículas carregadas - como elétrons e prótons -, afetando virtualmente todas as áreas da pesquisa científica, da física e da química à biologia.
Alguns físicos gostam de chamá-la de "constante mágica" porque ela parece ter o valor adequado para que as coisas sejam como são: O valor 1/137 é pequeno o bastante para deixar a força eletromagnética fraca o suficiente para que os elétrons saltem entre materiais, viabilizando as reações químicas, mas forte o suficiente para que as estrelas sejam capazes de sintetizar elementos mais pesados, como o carbono, que fundamenta a vida como a conhecemos.
É por isso que muitos cientistas dedicam toda a sua vida profissional a medir a constante de estrutura fina com a maior precisão possível.
Valor da Constante de Estrutura Fina
Léo Morel e seus colegas da Universidade de Sorbonne, na França, determinaram o valor de α com uma precisão de 11 dígitos significativos, melhorando a precisão da medição anterior por um fator de 3.
Isso dá 1/137.035999206(11), com os dois últimos dígitos, entre parênteses, com um nível de incerteza ainda grande. Mas a margem de erro é de meras 81 partes por trilhão.
A equipe alcançou tamanha precisão aprimorando sua configuração experimental ao longo de 22 anos, em um esforço para reduzir imprecisões e controlar os efeitos que podem criar perturbações na medição.
O experimento envolve uma nuvem de átomos de rubídio, com uma temperatura próxima do zero absoluto, absorvendo um fóton de luz. Quando absorvem fótons, esses átomos ultrafrios recuam a uma velocidade que depende de sua massa. A medição altamente precisa desse fenômeno permite precisar o valor da constante de estrutura fina.
"O modelo padrão da física de partículas é notavelmente bem-sucedido porque é consistente com (quase) todos os resultados experimentais. No entanto, ele não consegue explicar a matéria escura, a energia escura e o desequilíbrio entre matéria e antimatéria no Universo. Como as discrepâncias entre as previsões do modelo padrão e as observações experimentais podem fornecer evidências de uma nova física, uma avaliação precisa dessas previsões requer valores altamente precisos das constantes físicas fundamentais," escreveu a equipe.
Mistérios por desvendar
Mas não pense que o assunto está encerrado.
O novo valor difere de maneira preocupante do resultado mais preciso anterior, obtido em 2018 por uma equipe da Universidade de Berkeley, nos EUA.
Acontece que a diferença aparece no sétimo dígito, o que mostra uma discrepância maior do que a margem de erro das duas medições. Isso pode significar duas coisas: uma, ou as duas, medições apresentam um erro ainda não identificado, ou há uma diferença ainda desconhecida entre os átomos de rubídio, usado neste experimento, e os átomos de césio, usados no experimento de 2018.
Os dois grupos anunciaram que não encerraram o assunto, e que continuam a melhorar seus experimentos em busca de respostas.