Com informações da Agência Fapesp - 08/11/2018
Organização do trabalho
Está em curso uma grande transformação na organização do trabalho. Mudanças referentes à chamada Quarta Revolução Industrial envolvem automação, robôs, análise de megadados e aprendizado de máquina.
Nesse contexto, é preciso atentar para o saldo do desemprego crescente e a criação de postos de trabalho mais qualificados ou até novos padrões de trabalho.
Esta foi a tônica da discussão sobre o futuro do trabalho realizada durante 7º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, promovido pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). No evento, pesquisadores brasileiros e alemães discutiram novas tecnologias, processos de trabalho em empresas e a necessidade de aprendizado de novas habilidades.
"Existe uma relação entre inteligência artificial e seu impacto no mercado de trabalho. Por isso, o tema não só é discutido por cientistas, mas também por empresas e políticos. A questão é tão premente que alguns países estão criando Ministérios de Inteligência Artificial para lidar com as dificuldades que envolvem a transição no trabalho," disse Luís da Cunha Lamb, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Lamb defende que é preciso incluir esses temas na educação e, principalmente - em tempos de inteligência artificial e aprendizado de máquina -, aprender a raciocinar. "Na minha opinião, não estamos educando as pessoas para trabalharem nesse mundo," disse.
Utopias e distopias
Há visões pessimistas e algumas otimistas quanto ao futuro. De acordo com relatório do Fórum Econômico Mundial, publicado este ano, as máquinas farão mais tarefas do que os humanos já em 2025, mas a revolução dos robôs criará 58 milhões de novos empregos nos próximos cinco anos.
"Esses novos postos viriam a partir da adoção de novas tecnologias em empresas e na indústria, como uso e análise de big data, internet das coisas e aprendizado de máquina. Enquanto se perde de um lado, ganha-se com novas habilidades, e isso não necessariamente tem um saldo positivo," disse Bernd Dworschak, pesquisador do Instituto Fraunhofer de Engenharia Industrial.
Ainda de acordo com o relatório, a rápida evolução de robôs, máquinas e algoritmos no mercado de trabalho pode criar 133 milhões de novos postos de trabalho, enquanto outros 75 milhões perderão lugar até 2022.
Essa mudança na organização do trabalho já passa a ser sentida nos empregos. "Na Alemanha, existe um só setor que está perdendo postos de trabalho, e não é a indústria, é o setor bancário e de seguros. A automatização desses serviços já está tomando empregos," disse Joachim Möller, diretor do Instituto para a Pesquisa do Emprego da Alemanha (IAB).
Organização do trabalho
Outro participante do evento, Afonso Fleury, professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que a organização do trabalho se tornou mais complexa conforme o tempo foi passando.
"A escolha pela tecnologia é sempre interessante, mas não podemos esquecer que ela passa também pela criação de políticas industriais, de ciência e tecnologia. Enfim, é uma decisão que deve ser feita em cada país," afirmou, acrescentando que a situação brasileira não serve como boa base para o enfrentamento da revolução 4.0. "No Brasil, temos algum avanço no setor agroindustrial e no de serviços, mas estamos enfrentando a desindustrialização, mas não necessariamente na indústria digital."
Estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicou que atualmente apenas 1,6% da indústria brasileira está na chamada indústria 4.0 - quando a produção é conectada por meio de tecnologias da informação integradas e processos inteligentes, com capacidade de subsidiar gestores com informações para tomada de decisão.
No mesmo estudo, a chamada indústria 3.0 corresponde a 20,5%. Já as indústrias 2.0 e 1.0 correspondem a 39,1% e 38,7%, respectivamente.
Segundo pesquisadores, no Brasil existem ainda dois entraves principais para a transição do trabalho: produtividade e qualidade educacional. "O Brasil tem um problema grave de baixa produtividade e baixa qualidade educacional. Como podemos pensar em robôs, máquinas e inteligência artificial?" disse Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.