Com informações da Agência Fapesp - 24/12/2018
Envelhecimento e trabalho
Uma pesquisa conduzida a cada dois anos em 27 países vem desfazendo alguns mitos sobre o impacto do envelhecimento da população na economia.
Os resultados colhidos desde 2004 mostram que trabalhadores mais velhos não são menos produtivos do que seus colegas mais jovens e que a manutenção deles no mercado não cria desemprego para aqueles que desejam entrar no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, os dados revelam que a aposentadoria não necessariamente leva a uma melhora na saúde das pessoas.
Os dados foram apresentados por Axel Börsch-Supan, pesquisador do Instituto Max Planck para Lei e Política Social, em um evento realizado em São Paulo pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Axel é coordenador-geral da iniciativa, chamada de SHARE (Pesquisa de Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria na Europa, na sigla em inglês) e composta por longos questionários aplicados às mesmas pessoas ao longo do tempo, a fim de entender como trabalho, saúde e renda são afetados pelo aumento do número de pessoas com mais de 65 anos.
A estimativa é que, na metade deste século, 28% da população europeia terá mais de 65 anos. Atualmente, essa faixa corresponde a 23%. No Brasil, a população com mais de 60 anos vai triplicar até 2050, chegando a 29,3%, segundo o IBGE.
Mitos do envelhecimento
A pesquisa europeia já teve sete edições, recolhendo 350 mil entrevistas, com 130 mil pessoas, em 39 línguas diferentes, além de 27 mil amostras de sangue coletadas.
"Precisamos observar os indivíduos ao longo de seu curso de vida. Essa pesquisa tem que olhar para várias décadas de mudança. Não se pode simplesmente comparar os jovens de hoje com os idosos também de hoje, porque eles vêm de diferentes momentos da história. Basta pensar que o Brasil, por exemplo, teve uma grande mudança nos últimos 50 anos," disse Axel.
Uma das conclusões é que pessoas mais velhas cometem, sim, mais erros, em setores como a indústria automotiva. No entanto, os erros cometidos pelos jovens são mais graves.
Um mito derrubado a partir da análise das observações é de que os funcionários mais velhos seriam menos produtivos. "Vimos que a produtividade se mantém bastante estável, talvez até com um leve aumento à medida que se envelhece," disse Axel.
Outro engano é pensar que ao manter os mais velhos trabalhando por mais tempo tira-se o emprego de jovens. "Nos países em que muitas pessoas se aposentam cedo, há muito pouco desemprego," disse o pesquisador, que afirmou que esse é um bom sinal, pois a aposentaria precoce custa caro aos cofres públicos.
Pode-se pensar ainda que se aposentar deixaria o trabalhador mais saudável. Segundo Axel, isso é apenas parcialmente verdade: "Porque não condiz com acadêmicos, por exemplo, mas faz sentido para quem sempre fez trabalhos pesados."
Ao mesmo tempo, as medições das capacidades cognitivas ao longo das sete edições do SHARE mostram que pode haver uma queda depois da aposentadoria, seja qual for o setor em que a pessoa trabalhou. Na França, há uma perda mais significativa da memória entre aposentados do que na Suécia e nos Estados Unidos. E os franceses se aposentam mais cedo do que suecos e norte-americanos.
"Se você apenas fica em casa vendo TV, e aqui estou falando de um extremo, sua capacidade cognitiva decai. Essa é uma razão pela qual é preciso pensar duas vezes antes de dizer que aposentadoria melhora a saúde. É mais complicado do que isso," disse Axel.
O pesquisador ressaltou a importância de se fazer comparações internacionais a fim de tirar conclusões sobre causa e efeito de certas intervenções nas leis trabalhistas e nos investimentos em saúde e aposentadorias.