Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/12/2023
Unificar relatividade e mecânica quântica
Uma equipe de físicos do Colégio Universitário de Londres (UCL) apresentou uma nova teoria radical - eles a chamam de "teoria pós-quântica - que tenta unificar a força da gravidade e a mecânica quântica, preservando ao mesmo tempo o conceito clássico de espaço-tempo de Einstein.
A física moderna se baseia em dois pilares: A teoria quântica, por um lado, que governa as menores partículas do Universo, e a teoria da relatividade geral de Einstein, por outro, que explica a força da gravidade através da curvatura do espaço-tempo, tipicamente envolvendo os maiores corpos do Universo. Mas estas duas teorias estão em contradição entre si, e os físicos tentam reconciliá-las sem sucesso há mais de um século.
Como o modelo padrão da física de partículas não consegue explicar a gravidade, o caminho predominante tem sido o de que a teoria da gravidade de Einstein deve ser modificada, ou "quantizada", para se enquadrar na teoria quântica. Esta é a abordagem das duas principais candidatas a uma teoria quântica da gravidade, a teoria das cordas e a gravidade quântica em circuito fechado - como teriam poder explicativo maior, elas também são chamadas de teoria de tudo.
Mas a nova teoria apresentada agora por Jonathan Oppenheim e seus colegas contesta esse caminho predominante, sugerindo que o espaço-tempo de Einstein pode ser clássico, ou seja, não governado de modo algum pela teoria quântica.
Em vez de modificar o espaço-tempo, a proposta - batizada de "teoria pós-quântica da gravidade clássica" - modifica a teoria quântica e prevê uma quebra intrínseca na previsibilidade que é mediada pelo próprio espaço-tempo. Isto resulta em flutuações aleatórias e violentas no espaço-tempo que são maiores do que o previsto na teoria quântica.
E isto teria um efeito muito prático e que pode ser medido: O peso aparente dos objetos nunca deve ser exato, sendo de fato imprevisível se medido com precisão suficiente.
Espaço-tempo clássico
A equipe não ficou só na proposta: Os físicos traçaram um roteiro descrevendo algumas das consequências da nova teoria e propuseram experimentos para testá-la.
O experimento fundamental consistiria em medir uma massa com precisão extrema, para ver se o seu peso flutua ao longo do tempo. Por exemplo, o Bureau Internacional de Pesos e Medidas, na França, pesa rotineiramente uma massa de um quilograma (kg), que costumava ser o padrão de 1 kg. Se as flutuações nas medições dessa massa de 1 kg forem menores do que o necessário para a consistência matemática, a teoria pode ser descartada.
"Nós demonstramos que, se o espaço-tempo não tem uma natureza quântica, então deve haver flutuações aleatórias na curvatura do espaço-tempo que têm uma assinatura particular que pode ser verificada experimentalmente. Tanto na gravidade quântica quanto na gravidade clássica o espaço-tempo deve estar passando por flutuações violentas e aleatórias ao nosso redor, mas em uma escala que ainda não fomos capazes de detectar.
"Mas, se o espaço-tempo é clássico, as flutuações têm que ser maiores do que uma certa escala, e esta escala pode ser determinada por outro experimento onde nós testamos por quanto tempo podemos colocar um átomo pesado em superposição de estar em dois locais diferentes," descreveu Zach Weller-Davies, um dos autores da nova teoria.
O princípio é simples, mas agora será preciso desenvolver versões ultraprecisas de duas tecnologias combinadas: A medição da massa e a medição do tempo, para tentar detectar as minúsculas flutuações aleatórias do peso de algum objeto - e garantir que esse objeto seja extremamente estável.
Efeito do observador e buracos negros
Esta recém-proposta teoria pós-quântica - tecnicamente ela ainda é uma hipótese - também pode ter implicações além da gravidade. Com ela, o problemático "postulado de medição" da teoria quântica deixa de ser necessário, uma vez que as superposições quânticas necessariamente se localizam - saem da superposição - através de sua interação com o espaço-tempo clássico.
O postulado de medição - também conhecido como postulado de projeção ou postulado de colapso - é um dos princípios fundamentais da mecânica quântica, descrevendo como o ato de medir um sistema quântico afeta esse sistema. Em termos leigos, esse princípio é mais conhecido como efeito do observador, a ideia de que basta observar um sistema quântico para afetar inevitavelmente seu comportamento.
Os tão midiáticos buracos negros também serão "afetados". De acordo com a teoria quântica padrão, um objeto que entra em um buraco negro deveria ser irradiado de volta de algum modo, já que a informação não pode ser destruída, mas isso viola a relatividade geral, que diz que nunca se pode saber nada sobre objetos que cruzam o horizonte de eventos do buraco negro. A nova teoria permite que a informação seja destruída, devido a uma quebra fundamental na previsibilidade.