Com informações da New Scientist - 05/07/2013
Quando se fala em solucionar os mistérios do Universo, normalmente se pensa em encontrar a melhor resposta para uma pergunta.
Mas, e se não estivermos fazendo as perguntas certas?
Um pioneiro na computação quântica, David Deutsch, da Universidade de Oxford, passou a maior parte de sua carreira trabalhando em busca de uma nova forma de fazer perguntas sobre o Universo.
Sua visão para essa tão perseguida "Teoria de Tudo", que pretende descrever a natureza da realidade, une ideias em cosmologia, filosofia, computação e evolução.
Tem sido sugerido que essa teoria tão esperada poderia solucionar vários mistérios fundamentais, como por que o tempo flui apenas em uma direção - uma propriedade que não é exigida pela maioria das leis físicas, já tendo sido demonstrado, por exemplo, que os eventos quânticos independem do espaço e do tempo.
Agora, Deutsch publicou um aperitivo para mostrar o gosto que essa sua teoria poderá ter quando completa, abrindo um livro de receitas que pode apontar para um novo ramo da física.
Regra das transformações
De acordo com Deutsch, o problema com as teorias atuais é que elas não explicam adequadamente por que algumas transformações entre estados de ser são possíveis e outras não.
Nós sabemos, por exemplo, que a tinta pode se dissolver na água, mas não se junta espontaneamente de novo - o que não sabemos é por que deve ser assim.
Deutsch propõe uma estrutura construída sobre as próprias transformações, em vez de focar nos componentes em transformação.
Chamada de Teoria Construtor, este modelo define um construtor como qualquer coisa que cause transformações em sistemas físicos sem que ele próprio seja alterado - algo parecido com um catalisador químico.
O pesquisador então pergunta quais transformações devem ser descartadas para atingir um determinado resultado, independentemente do construtor que as causou.
Em outras palavras, quais processos podem ocorrer para fazer o corante se dissolver na água, quais os que não podem, e por quê?
Teoria Construtor
Para Vlatko Vedral, colega de Deutsch em Oxford, essa visão pode ser vista como uma generalização da segunda lei da termodinâmica.
Esta lei abrange a propriedade da entropia, que estabelece que a ordem leva à desordem em um sistema fechado. A entropia, por sua vez, implica que não podemos voltar no tempo porque isso implicaria que a matéria desordenada deveria se mover em direção à ordem.
Na Teoria Construtor, a chave seria descobrir por que tal transformação não seria permitida. Ao fazer esse tipo de pergunta, Deutsch parece querer aplicar a noção de que alguns estados são simplesmente inacessíveis a partir de outros para todas as leis físicas, interpreta Vedral.
Segundo ele, fundamentar essas bases poderia explicar, por exemplo, por que as leis da mecânica quântica são tão rigorosas - pequenas variações na forma como descrevemos as leis quânticas podem levar a contradições, como uma violação da velocidade da luz.
"Tão logo você modifique a mecânica quântica, algo dá errado," diz ele. "Por que isso? É um quebra-cabeça."
Vedral sabe bem disso, já tendo proposto que a Física Quântica e a Matrix podem recriar-se mutuamente e estudado implicações práticas do tipo que estabelece que deletar dados pode resfriar os computadores.
Mas, prossegue Vedral, se Teoria Construtor puder mostrar quais transformações são permitidas e quais não são, isto poderia explicar os próprios fundamentos da mecânica quântica.
O que Deutsch parece estar buscando é uma teoria que vai além de uma visão computacional do Universo, analisa Seth Lloyd, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ele próprio coautor de uma hipótese, formulada junto com Deutsch, de que as máquinas do tempo do futuro podem ser detectadas hoje.
Seth afirma que a Teoria Construtor poderia não apenas ajudar a unificar a Relatividade e a Mecânica Quântica, como também poderia mostrar que elas são partes necessárias do Universo, respondendo a perguntas filosóficas inquietantes de por que as coisas são do jeito que são.
"Se Deutsch conseguir fazer isso, seria incrível", conclui Lloyd.