Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/07/2022
Desfibrilação
O coração é um órgão bioelétrico, no qual pulsos elétricos precisos, mas que se ajustam dinamicamente, dão sustentação à nossa vida.
Mas tudo muda quando essa atividade elétrica se descontrola, gerando uma onda em espiral: Uma onda espiral cria taquicardia - uma frequência cardíaca muito rápida - e várias espirais causam um estado de contração desorganizada, conhecido como fibrilação.
Isso hoje é resolvido com um superpulso, um disparo elétrico drástico, quando 300 joules de energia são disparados de uma só vez por um desfibrilador. O problema é que esse disparo energiza não apenas as células do coração, mas todo o corpo, tornando o tratamento extremamente doloroso para o paciente e, não raro, danificando muitas células cardíacas.
Agora, um novo entendimento de como essas ondas espirais surgem pode levar a tratamentos muito mais suaves e sem efeitos colaterais.
"Ainda não tínhamos uma compreensão clara de como a desfibrilação funcionava. Esta pesquisa explica a energia mínima necessária para realmente encerrar uma arritmia e acredito que esclarece o mecanismo de desfibrilação," disse o professor Flavio Fenton, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA.
Teletransporte de ondas espirais
Os pesquisadores descobriram que, como as ondas espirais se desenvolvem em pares, elas também devem terminar em pares. Cada onda espiral está conectada a outra espiral indo na direção oposta. Juntar as ondas espirais através de um choque elétrico elimina instantaneamente ambas as ondas.
O passo seguinte consistiu em usar um método matemático para identificar as regiões-chave para uma estimulação por choque elétrico que permite atingir as ondas espirais no momento preciso onde se torna possível anular as duas ondas e desfibrilar o coração.
Esse processo de "matar" as ondas espirais na verdade move ambas, o que fez a equipe batizar seu conceito de "teletransporte".
"Nós o chamamos de teletransporte porque é muito semelhante ao que você vê na ficção científica, onde algo é movido instantaneamente de um lugar para outro," disse Fenton.
De fato, a equipe demonstrou que as ondas espirais podem ser teletransportadas para qualquer lugar do coração. Em particular, as ondas espirais podem ser movidas para que colidam com suas parceiras, o que extingue ambas - para que a desfibrilação ocorra com sucesso, todos os pares de ondas espirais devem ser eliminados dessa maneira.
Rumo aos testes
A teoria está toda pronta e modelada, e agora a equipe pretende começar os testes práticos em culturas de células. "O próximo passo é provar experimentalmente que o que fizemos numericamente é possível," disse Fenton.
Mas a equipe já está em contato com cardiologistas, visando o desenvolvimento de métodos de aplicação da técnica que sejam clinicamente viáveis e práticos.