Felipe Maeda Camargo - Agência USP - 01/09/2010
Teste colorimétrico
Uma pesquisa desenvolvida na USP, campus de Ribeirão Preto, resultou em um método preliminar para identificar cocaína.
A técnica utiliza recursos eletroquímicos e será útil na área de perícia policial.
"O objetivo é oferecer uma metodologia mais específica para o teste preliminar de cocaína apreendida pela polícia, já que o teste atual é colorimétrico e oferece uma grande gama de resultados falso positivos", diz a química Natália Biziak de Figueiredo, autora do trabalho.
Natália explica que o teste colorimétrico usa uma solução da substância química tiocianato de cobalto, a qual, ao reagir com a cocaína, a torna azul.
O problema desse método é que ele também torna outras substâncias azuis, como a procaína, a heroína e a lidocaína, comumente utilizadas na composição da cocaína como adulterantes.
Desse modo, a pesquisa de Natália procurou providenciar uma forma mais eficaz de distinguir a cocaína de outras substâncias.
Teste eletroquímico
Orientada pelo professor Marcelo Firmino de Oliveira, Natália criou dois eletrodos que funcionam em uma célula eletroquímica. Nela se mede o potencial elétrico para uma certa substância química.
"Uma das vantagens desse método é que cada substância gera um potencial específico, facilitando a distinção da cocaína", comenta.
Além disso, a medição do potencial independe da quantidade de cocaína e de outras substâncias que estejam misturadas com ela.
"No método colorimétrico, muitas vezes não se consegue prender quem mistura a cocaína com outros materiais, como a própria farinha de trigo. Há casos em que o amido mascara a droga e se tiver pouca cocaína, o amido pode camuflá-la", diz a pesquisadora.
Cromatografia líquida
Natália também destaca que o método criado no estudo se mostrou tão eficiente quanto a técnica mais avançada utilizada pela polícia, a cromatografia líquida. Esta técnica é usada em testes finais e envolve uma série de etapas de preparação da amostra.
De acordo com a química, o problema deste processo é que ele é complexo e caro, pois exige grandes volumes de solventes.
"A cromatografia pode chegar a usar 4 litros (L), enquanto o método eletroquímico usa em torno de 4ml (mililitros)", e acrescenta: "A técnica eletroquímica é de mais baixo custo, já que utiliza menos solventes, é mais simples de ser executada e obtém o resultado de forma mais rápida, chegando a ser 5 vezes mais rápido que a cromatografia líquida".
Apesar de sua eficiência, o método ainda não está completo, pois ainda é preciso realizar mais testes de validação com a nova técnica. "Serão necessários mais estudos para ver se outros fatores como temperatura e pH [medida química que indica se uma solução é ácida, neutra ou básica] interferem nos resultados. A ideia é que seja usado futuramente pela polícia científica", relata Natália.
Célula eletroquímica
Para o funcionamento do método, são usados três eletrodos, um solvente para diluir a cocaína ou outra substância em estudo (como a lidocaína e a procaína) e uma célula eletroquímica.
Dos três eletrodos, um interage diretamente com a cocaína e os outros dois completam o circuito da célula eletroquímica.
Foram criados mais dois eletrodos, que ficam em contato com a droga, sendo um deles recoberto por um filme de hexacianoferrato de cobalto e o outro, modificado com um Salcn de níquel. Tudo no final é ligado a um equipamento que mede o potencial elétrico na qual a corrente é gerada.
Na célula, a cocaína sofre uma reação eletroquímica com o eletrodo de trabalho, gerando uma corrente elétrica. Essa corrente é medida pelo aparelho, que identifica o potencial elétrico da cocaína e de outras substâncias que participaram da reação.