Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/06/2024
Biofibras
Imagine comprar uma camiseta, usá-la enquanto ela estiver na moda e não começar a se desbotar e, quando se cansar dela, simplesmente dissolvê-la para criar um material que poderá ser diretamente usado para fazer uma camiseta nova.
Esta é a proposta de Eldy Vásquez e colegas da Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA, que desenvolveram uma máquina no melhor estilo "Faça Você Mesmo", que produzir fibras têxteis feitas de materiais como gelatina de origem sustentável.
A máquina é pequena o suficiente para caber em uma mesa e os materiais usados em sua construção custaram apenas US$ 560 (menos de R$ 3 mil). A ideia é que o dispositivo ajude designers de todo o mundo a experimentar a produção de suas próprias fibras e seus próprios tecidos.
As biofibras que saem da máquina se parecem um pouco com fibras de linho, mas se dissolvem em água quente em poucos minutos, no máximo em uma hora. Esta é uma solução de reciclagem muito bem-vinda quando se leva em conta que roupas velhas representam cerca de 8% de todos os resíduos sólidos urbanos produzidos a cada ano.
"Você pode personalizar as fibras com a resistência e a elasticidade desejadas, na cor desejada," disse a pesquisadora. "Com esse tipo de máquina de prototipagem, qualquer pessoa pode fabricar fibras. Você não precisa das grandes máquinas que existem apenas nos departamentos de química das universidades."
Tecido de gelatina
Para inventar uma nova forma de fazer roupas, a equipe começou pela gelatina. Essa proteína elástica é comum nos ossos e cascos de muitos animais, incluindo porcos e vacas. Todos os anos, os produtores de carne jogam fora grandes volumes de gelatina que não atendem aos requisitos de cosméticos ou produtos alimentícios. Como queria dar um uso para esse material, Elcy comprou sua própria gelatina, que vem em pó, em um açougue local.
Era hora então de desenvolver uma máquina de tecelagem capaz de trabalhar com a gelatina. A versão atual usa uma seringa de plástico para aquecer e espremer gotas de uma mistura de gelatina líquida. Dois conjuntos de rolos puxam a gelatina, esticando-a em fibras longas e finas - não muito diferente de uma aranha tecendo uma teia de seda.
No processo, as fibras também passam por banhos líquidos, onde podem ser introduzidos corantes de base biológica ou outros aditivos no material - adicionar um pouco de genipina, um extrato de fruta, por exemplo, fortalece as fibras.
Tecidos inteligentes e muito mais
Se roupas totalmente recicláveis e produzíveis em casa já não fosse bom o bastante, Eldy investiu também no conceito de "tecidos inteligentes", usando suas biofibras para criar roupas dotadas de sensores e de conexões elétricas para ligá-los diretamente a um telefone celular.
Como prova de conceito, a equipe criou pequenos sensores com fibras de gelatina e algodão e fios condutores, obtendo um tecido semelhante aos usados na fabricação de jaquetas.
É claro que isto tem seu próprio custo, já que as roupas deixam de ser tão facilmente recicláveis devido às fibras eletricamente condutoras que precisam ser acrescentadas ao tecido para lhe dar sua conectividade. Mas não inviabiliza totalmente o conceito: Quando o tecido foi mergulhado em água morna, a gelatina se dissolveu, liberando os fios metálicos para reciclagem e reaproveitamento.
Faça Você Mesmo
Ainda há trabalho a ser feito, mas, seguindo o conceito do Faça Você Mesmo, a ideia é que cada pessoa siga suas próprias necessidades. Poderá ser necessário, por exemplo, ajustar a química das fibras para torná-las um pouco mais resistentes, já que ninguém gostaria de usar uma roupa que se desmanche na chuva.
Elcy cita que também será interessante fazer experiências com a fiação de fibras semelhantes usando outros ingredientes naturais. Duas sugestões da pesquisadora são a quitina, um componente das cascas de caranguejo, e o ágar-ágar, que vem das algas.
"Estamos tentando pensar em todo o ciclo de vida dos nossos têxteis," disse Elcy. "Isso começa com a origem do material. Podemos obtê-lo de algo que normalmente vai para o lixo?"