Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/05/2024
Átomos de matéria e antimatéria
O átomo de hidrogênio já foi considerado o átomo mais simples da natureza, composto por um elétron (sem estrutura) e um próton estruturado.
No entanto, embora muito menos conhecido, existe um tipo ainda mais simples de átomo, formado por elétrons sem estrutura (e-), múons (μ-) ou tauons (τ-) e suas antipartículas igualmente sem estrutura. Esses átomos híbridos de matéria e antimatéria são unidos apenas por interações eletromagnéticas.
Também conhecidos como átomos QED (sigla em inglês de eletrodinâmica quântica), suas estruturas mais simples do que a dos átomos de hidrogênio proporcionam perspectivas diferenciadas para se estudar problemas como mecânica quântica, simetria fundamental e até a força da gravidade.
Até o momento, apenas dois átomos com interações eletromagnéticas puras foram observados: O positrônio, um estado ligado elétron-pósitron descoberto em 1951, e o muônio, um estado ligado elétron-antimúon, descoberto em 1960.
O positrônio é formado pelo elétron e sua antipartícula, o pósitron, enquanto o muônio é formado pelo elétron e a antipartícula do múon. Nos dois casos a parte de matéria e de antimatéria são unidas apenas pela força eletromagnética. O positrônio é altamente instável, já que o elétron e sua antimatéria se aniquilam rapidamente. O muônio é um pouquinho mais duradouro, já que o múon é mais pesado do que o elétron.
Nos últimos 64 anos, não houve outros sinais desses átomos com interações eletromagnéticas puras, embora existam algumas propostas para procurá-los em raios cósmicos ou em aceleradores de alta energia.
Isto agora pode estar prestes a mudar.
Tauônio
Um dos candidatos mais procurados nesse reino de átomos híbridos é conhecido como tauônio, que deve ser composto de uma partícula tau (ou táuon) e sua antipartícula, o antitáuon. Ele é interessante porque tem um raio de Bohr (o raio da órbita do elétron no estado fundamental do átomo de hidrogênio, de acordo com o modelo atômico de Bohr) de apenas 30,4 femtômetros (1 femtômetro = 10-15 metro), o que é aproximadamente 1/1741 do raio de Bohr de um átomo de hidrogênio.
Isto significa que o tauônio permitirá testar os princípios fundamentais da mecânica quântica e da eletrodinâmica quântica em escalas muito menores do que é possível hoje, fornecendo uma ferramenta para explorar os mistérios dos reinos atômico e subatômico.
Uma equipe de físicos de várias universidades chinesas vislumbrou agora uma nova abordagem para que finalmente possamos observar o tauônio experimentalmente.
Os cálculos da equipe mostram que, se coletarmos dados perto do limite de produção de pares de partículas tau em um colisor de elétrons e pósitrons, e selecionarmos eventos de sinal contendo partículas carregadas acompanhadas por neutrinos não detectados que transportam energia, a significância da observação do tauônio excederá cinco sigmas, que é o indicador que os físicos usam para dar a uma observação a categoria de "descoberta" - ou seja, mostrando uma evidência experimental da existência do tauônio.
Experimentos
Outra conclusão interessante é que, usando os mesmos dados, a precisão da medição da massa do tau pode ser melhorada para um nível sem precedentes de 1 keV, duas ordens de magnitude superior à maior precisão alcançada pelos experimentos atuais. Apenas isto não só contribuirá para o teste preciso da teoria eletrofraca no Modelo Padrão, mas também terá implicações importantes para questões fundamentais da física, como a universalidade do sabor do lépton.
Este trabalho é importante porque há pelo menos dois colisores sendo projetados, que poderão executar as medições propostas: O STCF (sigla em inglês para Instalação Tau-Charme), na China, e o SCTF (sigla em inglês para Fábrica Charme-Tau), na Rússia.
Ambos têm entre seus objetivos trabalhar perto do limite do par táuon, medindo a massa do tau com alta precisão e, eventualmente, flagrando o menor e mais pesado átomo com interações eletromagnéticas puras. Esses resultados, se realmente alcançados, nos darão uma compreensão mais profunda sobre a matéria, a antimatéria e suas interações.