Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/06/2022
Supervermes
Talvez a natureza possa salvar-nos de nós mesmos - comendo a poluição que não conseguimos degradar, por exemplo.
Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, descobriram que uma larva de besouro, conhecida como "superverme", consegue comer poliestireno expandido, mais conhecido pelo nome comercial isopor®.
Os supervermes na verdade são larvas de um besouro conhecido como tenébrio gigante (Zophobas morio). Elas medem entre 5 e 6 centímetros de comprimento e são criadas comercialmente, sendo vendidas como alimento para animais de estimação, sobretudo répteis.
Os pesquisadores alimentaram supervermes com diferentes dietas durante três semanas: Alguns com espuma de poliestireno, alguns com farelo e outros foram deixados em jejum.
"Descobrimos que os supervermes alimentados com uma dieta de apenas poliestireno não apenas sobreviveram, mas até tiveram ganhos de peso marginais," disse o professor Christian Rinke. "Isso sugere que os vermes podem obter energia do poliestireno, provavelmente com a ajuda de seus micróbios intestinais."
De fato, usando uma técnica chamada metagenômica, a equipe encontrou várias enzimas no intestino das larvas com a capacidade de degradar poliestireno e estireno.
Mas, em vez de criar fazendas de supervermes para comer isopor descartado, a equipe pretende isolar as enzimas, para que elas possam ser usadas em processos de reciclagem industriais, usando a técnica de biodegradação enzimática.
"Os produtos de degradação dessa reação podem ser usados por outros micróbios para criar compostos de alto valor, como bioplásticos," exemplificou Rinke.
Químicos eternos
Já Yaochun Yu e seus colegas da Universidade da Califórnia em Riverside estão preocupados com uma outra classe de químicos, conhecidos como PFAS, sigla em inglês que engloba compostos como perfluoroalquil e polifluoroalquil.
O grande problema é que esses compostos - são mais de 9.000 substâncias no grupo das PFAS - podem persistir no ambiente por séculos, porque são muito estáveis.
Yu descobriu que um processo com apenas três elementos, dois deles bactérias bem conhecidas, conseguem destruir esses assim chamados "compostos químicos eternos".
Usando lodo ativado - comunidades microbianas comumente usadas em instalações de tratamento de águas residuais para quebrar e remover matéria orgânica - e uma condição anaeróbica, os pesquisadores demonstraram que os micróbios atacam uma ligação dupla carbono-carbono, o que é crucial para quebrar a ligação ultraforte carbono-flúor que mantém os PFAS coesos.
Embora a quebra da ligação carbono-carbono não degrade completamente a molécula, os produtos resultantes podem ser repassados para outros microrganismos - o terceiro elemento do processo - para desfluoração em condições aeróbicas.
Esta é a primeira vez que se consegue a desfluoração microbiana de uma estrutura de PFAS totalmente fluorada, substituindo as ligações carbono-flúor por ligações carbono-hidrogênio.
"Atualmente os biocatalisadores que podem fazer a desfluoração de compostos perfluorados são muito raros. Ainda sabemos muito pouco sobre quais micróbios ou enzimas podem fazer a desfluoração de PFAS em geral e como. Nosso trabalho está na vanguarda de encontrar essas informações," disse a professora Yujie Men.