Redação do Site Inovação Tecnológica - 07/01/2022
Raios cósmicos e a vida
Parece haver uma conexão muito estreita entre a fração de matéria orgânica contida nos sedimentos encontrados na Terra e as mudanças na ocorrência de supernovas, gigantescas explosões que marcam o fim da vida de estrelas muito grandes.
As supernovas são a principal fonte de raios cósmicos, que não são realmente raios, mas partículas de alta energia.
Os dados mostram essa correlação durante os últimos 3,5 bilhões de anos, e mais ainda nos 500 milhões de anos mais recentes, para os quais os registros são mais confiáveis.
Com isto, pode-se dizer que correlação entre raios cósmicos e matéria orgânica indica que as supernovas estabeleceram condições essenciais para a existência da vida na Terra.
Essa é a conclusão do professor Henrik Svensmark, da Universidade Técnica da Dinamarca.
"Quando estrelas massivas explodem, elas produzem raios cósmicos feitos de partículas elementares com enormes energias. Os raios cósmicos viajam para o nosso Sistema Solar, e alguns terminam sua jornada colidindo com a atmosfera da Terra. Aqui, eles são responsáveis por ionizar a atmosfera," explica ele.
A correlação identificada por Svensmark vem reforçar a ideia de que os raios cósmicos podem ter moldado a vida na Terra.
Supernovas influenciam clima da Terra
De acordo com Svensmark, uma explicação para a ligação observada entre as supernovas e a vida é que as supernovas influenciam o clima da Terra.
Um grande número de supernovas leva a um clima frio, com uma diferença significativa de temperatura entre o equador e as regiões polares. Isto resulta em ventos fortes e na agitação dos oceanos, vital para o fornecimento de nutrientes aos sistemas biológicos. A alta concentração de nutrientes leva a uma maior bioprodutividade e, por consequência, a um soterramento mais extenso de matéria orgânica nos sedimentos.
Um clima mais quente, por outro lado, tem ventos mais fracos e menos mistura nos oceanos, uma diminuição do suprimento de nutrientes, uma menor bioprodutividade e menos soterramento de matéria orgânica.
"Uma consequência fascinante é que mover matéria orgânica para os sedimentos é indiretamente fonte de oxigênio. A fotossíntese produz oxigênio e açúcar a partir da luz, água e CO2. No entanto, se a matéria orgânica não for movida para os sedimentos, o oxigênio e a matéria orgânica se transformam em CO2 e água. O soterramento de material orgânico impede essa reação reversa. Portanto, as supernovas controlam indiretamente a produção de oxigênio, e o oxigênio é a base de toda a vida complexa," propõe Svensmark.
Nutrientes e raios cósmicos
O pesquisador afirma ter encontrado nos dados dos últimos 500 milhões de anos uma concentração de nutrientes no oceano "que se correlaciona razoavelmente" com as variações na frequência das supernovas.
A concentração de nutrientes nos oceanos foi medida por elementos presentes na pirita (FeS2, também chamada de ouro de tolo) embutida no xisto preto, que está sedimentado no fundo do mar.
É possível estimar a fração de material orgânico nos sedimentos medindo o carbono-13 em relação ao carbono-12. Visto que a vida prefere o átomo mais leve de carbono-12, a quantidade de biomassa nos oceanos do mundo muda a proporção entre o carbono-12 e o carbono-13 medida nos sedimentos marinhos.
"As novas evidências apontam para uma extraordinária interconexão entre a vida na Terra e as supernovas, mediada pelo efeito dos raios cósmicos nas nuvens e no clima," conclui Svensmark.