Com informações da NSF - 30/08/2010
Sismologia estelar
Em uma tentativa de elucidar questões ainda misteriosas sobre o Sol, incluindo os impactos do seu ciclo de 11 anos sobre a Terra, uma equipe internacional de cientistas decidiu sondar uma estrela bem mais distante.
Ao monitorar as ondas sonoras emitidas pela estrela, a equipe observou um ciclo análogo ao ciclo magnético do Sol.
"Essencialmente, a estrela está tocando como um sino," diz Travis Metcalfe, coautor da pesquisa.
A equipe examinou as oscilações acústicas da estrela usando uma técnica chamada "sismologia estelar".
Os cientistas estudaram uma estrela conhecida como HD49933, que está localizada a 100 anos-luz da Terra, na constelação do Unicórnio.
Eles detectaram a assinatura de "manchas estelares", áreas de intensa atividade magnética na superfície da estrela que são semelhantes às manchas solares.
"Conforme ela se move através de seu ciclo, o tom e o volume dos sons se alteram em um padrão muito específico, deslocando-se para tons mais elevados com volumes mais baixos no auge do seu ciclo magnético."
Planetas habitáveis
A sismologia estelar poderá abrir caminho para a observação da atividade magnética de centenas de estrelas, ajudando a avaliar novos sistemas solares com potencial de abrigar vida.
Estudar muitas estrelas dessa forma vai ajudar os cientistas a entender melhor como os ciclos de atividade magnética podem variar de estrela para estrela, bem como os processos por trás de tais ciclos.
A sismologia estelar poderá ser especialmente útil para se entender os processos de atividade magnética que ocorrem dentro do Sol, inteiramente ligados à influência do Sol sobre o clima da Terra.
"Entender a atividade das estrelas que abrigam planetas é necessário porque as condições magnéticas na superfície da estrela podem influenciar a zona habitável, onde a vida poderia se desenvolver," o cientista Rafael Garcia, coautor do estudo.
A técnica também poderá permitir melhores previsões do ciclo solar e das tempestades geomagnéticas que resultam desse ciclo, fenômenos estes que podem causar grandes perturbações para as redes de distribuição elétrica e de comunicação.
Ciclos estelares
Para ouvir a estrela, os cientistas analisaram 187 dias de dados capturados pelo telescópio Corot, uma missão da qual o Brasil faz parte e cujo principal objetivo é encontrar exoplanetas.
O estudo descobriu que a HD49933 é muito maior e mais quente do que o Sol, embora seu ciclo magnético seja muito menor - pouco menos de um ano, em comparação com os ciclos de 11 anos do Sol.
O fato de outras estrelas terem ciclos magnéticos tão pequenos entusiasmou os astrônomos, que agora poderão monitorar ciclos completos das estrelas, usando tanto o Corot quanto o recém-lançado telescópio Kepler que, além de exoplanetas, também quer encontrar luas habitáveis em outros planetas.
"Quanto mais estrelas e ciclos magnéticos completos nós observarmos, mais poderemos colocar o Sol em perspectiva e explorar os impactos da atividade magnética sobre possíveis planetas girando ao redor dessas estrelas," concluem os cientistas.