Com informações da New Scientist - 02/06/2014
Obra-prima cósmica
Por que se contentar com sistemas planetários com um planeta habitável cada, quando você pode ter 60 terras bem na vizinhança?
Um astrofísico francês projetou o que ele chama de "sistema estelar definitivo", um que contenha o máximo de planetas semelhantes à Terra, compondo um sistema único, sem quebrar as leis da física.
Sean Raymond, do Observatório de Bordeaux, começou a estruturar sua obra-prima cósmica com um par de regras básicas.
Em primeiro lugar, o arranjo dos planetas deveria ser cientificamente plausível. Em segundo lugar, eles precisariam ser gravitacionalmente estáveis ao longo de bilhões de anos.
Para começar, ele escolheu uma estrela anã vermelha porque estrelas deste tipo têm uma massa menor do que estrelas como o nosso Sol e, assim, vivem mais tempo, gerando uma zona habitável estável - a região em torno de uma estrela em que pode existir água em estado líquido.
O primeiro exoplaneta do tamanho da Terra descoberto na zona habitável orbita uma estrela anã vermelha.
Órbitas compartilhadas e exoluas
Cada planeta do tamanho da Terra orbitando uma anã vermelha poderia ter uma lua de mesmo tamanho, com os dois mundos orbitando um ponto central.
Além disso, dois pares de planetas podem orbitar uma estrela à mesma distância, desde que eles estejam separados por 60 graus, graças a um par de pontos gravitacionalmente estáveis.
Não, isso não é fantasia. Já foram observados dois planetas na mesma órbita, exoplanetas com órbitas inclinadas e até exoplanetas que orbitam na contramão, nas chamadas órbitas retrógradas, algo que Raymond não precisou usar.
Há espaço para seis dessas configurações orbitais na zona habitável de uma anã vermelha, dando um total de 24 planetas habitáveis nesse sistema planetário.
Mas há outras ferramentas para construir um sistema planetário mais denso: gigantes gasosos, como Júpiter, não são habitáveis pela vida como a conhecemos, mas eles podem ser orbitados por luas muito similares à Terra, potencialmente habitáveis.
Raymond calcula que uma anã vermelha poderia prender gravitacionalmente quatro planetas júpiteres, cada um com cinco luas como a Terra.
Usando o mesmo truque do compartilhamento de órbitas, pode haver mais dois planetas como a Terra em ambos os lados da órbita de cada Júpiter, o que somaria 36 mundos habitáveis ao redor da anã vermelha.
60 terras habitáveis
Finalmente, Raymond adotou um sistema binário, com duas anãs vermelhas, uma orbitando a outra a uma distância similar ao raio do nosso Sistema Solar.
Não, isso também não é exagero. Na verdade, é até conservador, uma vez que já conhecemos um planeta com quatro sóis e até um sistema de três sóis com três planetas na zona habitável.
Mas não basta somar, porque a teoria permite que só uma das estrelas tenha a configuração dos júpiteres e suas luas-terras - a outra estrela pode ter apenas a primeira configuração, só com "terras binárias".
Está pronto então o sistema planetário definitivo, com 60 planetas habitáveis à sua escolha.
Será que "alguém" pensou nisso?
"Eu admito que seria extremamente casual que a natureza tenha produzido um sistema que fosse tão espetacular," diz Raymond. "Ainda assim, cada peça do sistema é plausível e até mesmo esperado a partir de simulações de formação planetária."