Com informações da Agência Fapesp - 29/05/2019
Sensor legal
Um sensor desenvolvido no Brasil despertou o interesse de autoridades argentinas e agora está próximo de se tornar um item obrigatório de segurança naquele país.
"O sensor pode ajudar a evitar mortes por inalação de monóxido de carbono tanto nos países vizinhos como no Brasil, onde esse tipo de acidente é registrado principalmente na região Sul e, mais recentemente, no Nordeste, devido ao uso de aquecimento a gás," explicou o professor Elson Longo, diretor do CDMF (Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais).
A intoxicação por monóxido de carbono (CO) é a causa mais provável das mortes de seis turistas brasileiros no Chile, na semana passada. Esse tipo de acidente é comum onde se utiliza aquecimento a gás. Na Argentina, por exemplo, são registradas 250 mortes e 2 mil casos de intoxicação pelo gás tóxico todos os anos.
Sensor de monóxido de carbono para aquecedores
O dispositivo consiste em um circuito integrado dotado de um sensor eletrônico de CO (monóxido de carbono) e outro de metano, desenvolvidos e patenteados pela equipe do CDMF, que também já desenvolveu sensores de ozônio, hidrogênio e radiação ionizante.
Os sensores são compostos por óxidos semicondutores, principalmente de cério, em escala nanométrica (da bilionésima parte do metro). Em contato com o CO e outros gases, esses óxidos apresentam uma mudança na resistência elétrica, que é processada e interpretada pelo circuito eletrônico como um sinal para interromper o fluxo de gás no equipamento em que o sistema está instalado, como um aquecedor de água.
"O monóxido de carbono é produzido pela combustão incompleta do gás natural pela falta de oxigênio no ambiente. Por isso, ao detectar a presença de CO acima do limite de segurança, o sensor corta o fluxo de gás natural para o queimador", explicou Miguel Adolfo Ponce, um dos idealizadores do projeto.
De acordo com o pesquisador, a exposição a uma concentração de 0,02 partes por milhão (ppm) de CO não causa efeitos nocivos à saúde. Acima desse nível começa a causar sintomas perceptíveis, como sonolência e dor de cabeça. A exposição a 1.400 ppm de CO por uma hora é capaz de levar à morte.
Alguns fatores dificultam a detecção de CO no ambiente. O gás é incolor, insípido, inodoro e não irrita as mucosas. A única forma de percebê-lo é pela coloração da chama do queimador - se ela não estiver azulada, característica da combustão completa do gás natural pela quantidade correta de oxigênio, pode ser um indício de emissão de CO, afirmou Ponce.
Sensor acoplado ao celular
O dispositivo já gerou duas patentes e despertou o interesse de uma empresa argentina e outra brasileira, dispostas a fabricá-lo em conjunto.
Com base nessa tecnologia, os pesquisadores desenvolveram outro tipo de sensor que pode ser acoplado a um telefone celular e é capaz de detectar e indicar a presença de CO não só pela mudança da resistência elétrica, mas também pela cor, e indicar o perigo por meio de um aplicativo.
"Esse sistema de monitoramento pode ser usado em minas, onde também são registradas mortes por intoxicação por monóxido de carbono," disse Longo.