Redação do Site Inovação Tecnológica - 20/10/2008
No final de 2007, a maioria do povo brasileiro ouviu pela primeira vez falar sobre peróxido de hidrogênio - mesmo presente na maioria das residências na forma de água oxigenada, foi a primeira vez que esse composto foi utilizado para adulterar o leite.
"A substância mata algumas bactérias e pode prolongar o tempo de vida útil do produto. Mas o consumo diário do leite com a água oxigenada pode causar diarréias e outros distúrbios intestinais," explica o químico Thiago Regis Longo Cesar da Paixão, da USP.
Sensor caseiro de CD
Pensando em criar uma forma mais fácil de detectar esse tipo de contaminação, Thiago desenvolveu um novo tipo de sensor de baixíssimo custo que possibilita a análise de algumas propriedades do leite de forma rápida e eficiente. É uma espécie de sensor "caseiro," construído a partir de um CD.
"Recortamos pequenos pedaços de um CD comum, desses que armazenam dados ou músicas", explica o cientista. Segundo ele, a preferência é utilizar os CDs que tenham uma película de ouro.
Para a confecção dos sensores, que têm cerca de 2 x 5 centímetros (cm), remove-se a camada polimérica que protege o CD expondo a camada de ouro. Em seguida são desenhados e impressos em papel vegetal os leiautes dos eletrodos, que são transferidos à camada de ouro do CD por aquecimento.
"Os leiautes impressos no CD definirão os eletrodos no dispositivo, que serão os responsáveis por extrair as informações do líquido, produzindo, posteriormente, gráficos que serão comparados a outros já padronizados. Qualquer diferença possibilitará a constatação de irregularidades no produto", descreve o pesquisador.
Análise de vinhos e combustíveis
O sensor de CD conseguiu diferenciar três tipos de leite em laboratório: homogeneizado pasteurizado; UHT (Ultra high temperature) processado; UHT processado com baixo teor de gordura. O método mostrou-se eficaz também para detectar a presença do peróxido de hidrogênio.
Além de analisar o leite, o conjunto de sensores tem potencial para realizar análises de outros líquidos, sejam alimentícios, como vinhos, ou não, como é o caso dos combustíveis.
Sensor de baixo custo
De acordo com os cálculos de Thiago, cada pequeno sensor custará, em média, menos de R$ 1,00. Além de serem descartáveis, poderão ser usados de maneira portátil.
No laboratório do Instituto de Química da USP, o equipamento de análise é composto por um conjunto de sensores construídos com os CDs e de um potenciostato (equipamento que mede a corrente elétrica resultante da aplicação de uma diferença de potencial aos eletrodos do dispositivo).
"Ao todo, um equipamento desse tipo não custaria mais do que R$ 10 mil, incluindo a aquisição do potenciostato", calcula o químico.
Língua artificial
Em termos gerais, o sistema desenvolvido por Thiago se assemelha à língua humana. Tanto que o primeiro passo de suas pesquisas foi verificar se o dispositivo era capaz de distinguir os quatro sabores perceptíveis pela língua humana: azedo (HCl - ácido clorídrico); salgado (KCl - cloreto de potássio); amargo, semelhante a água tônica (Quinino) e doce (Sacarose - açúcar).
O cientista lembra que o equipamento poderá ser usado na indústria alimentícia em todas as etapas de produção do leite. Diferentemente dos métodos convencionais, complexos e demorados, uma amostra de leite pode ser analisada em cerca de 2 ou 3 minutos.