Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/10/2023
Semicondutor melhor do que o silício
Todas as nossas tecnologias são baseadas em materiais chamados semicondutores, uma família em que o silício reina soberano.
Mas isto não significa que o silício seja o semicondutor perfeito - por exemplo, ele tem o mau hábito de esquentar muito, desperdiçando muita energia e exigindo baterias grandes para os aparelhos móveis.
A estrutura atômica de qualquer material vibra, o que cria fônons, as partículas quânticas responsáveis pela condução do som e do calor. Os fônons, por sua vez, fazem com que outras partículas, elétrons ou pares elétrons-lacunas chamados éxcitons, que transportam energia e informações nos circuitos eletrônicos, se dispersem em questão de nanômetros em termos espaciais e de femtossegundos em termos temporais. Isto significa que a energia se perde sob a forma de calor e que a transferência de informação tem um limite de velocidade.
Jakhangirkhodja Tulyagankhodjaev e colegas da Universidade de Colúmbia, nos EUA, sintetizaram agora um novo semicondutor que faz muito mais do que apenas ter um desempenho melhor do que o nosso querido silício - ele apresentou um desempenho que o torna o semicondutor mais rápido e mais eficiente que se conhece.
Seu nome: Re6Se8Cl2, um material superatômico formado pelos elementos rênio, selênio e cloro.
Superátomos são aglomerados de átomos unidos que se comportam como um grande átomo, mas com propriedades diferentes das dos elementos usados para construí-los.
Semicondutor mais rápido do mundo
Em vez de se dispersarem quando entram em contato com fônons, os éxcitons no Re6Se8Cl2 na verdade se ligam a esses fônons, criando novas quasipartículas chamadas éxciton-polarons acústicos. Embora os polarons tenham sido encontrados em muitos materiais depois que foram visualizados pela primeira vez, em 2016, os polarons do Re6Se8Cl2 têm uma propriedade especial: Eles são capazes de fluxo balístico, ou livre de dispersão.
Esse comportamento balístico significa que, se o material suportar o caminho até as aplicações em escala industrial, será possível fabricar circuitos eletrônicos muito mais rápidos e mais energeticamente eficientes do que qualquer coisa disponível hoje.
Nos experimentos realizados pela equipe, os éxcitons-polarons acústicos no Re6Se8Cl2 moveram-se duas vezes mais rápido do que os elétrons no silício e cruzaram vários micrômetros da amostra em menos de um nanossegundo. Dado que os polarons podem durar cerca de 11 nanossegundos, a equipe acredita que os éxcitons-polarons podem cobrir mais de 25 micrômetros num impulso só.
E, como essas quasipartículas são controladas por pulsos de luz, e não por uma corrente elétrica, as velocidades de processamento em dispositivos teóricos têm o potencial de atingir a casa dos femtossegundos (10-15 segundo), o que é seis ordens de magnitude (106) mais rápido do que os nanossegundos (10-9 segundo) alcançáveis na atual eletrônica gigahertz. E tudo em temperatura ambiente.
Pode melhorar, mas é caro
As novas quasipartículas são rápidas, mas, de forma contraintuitiva, elas atingem essa velocidade porque, por si sós, andam muito lentamente - um pouco como a história da tartaruga e da lebre, em que a persistência vence a velocidade de arrancada.
O que torna o silício um semicondutor desejável é que os elétrons podem se mover através dele muito rapidamente - mas, como a proverbial lebre, eles saltam demais e na verdade não chegam muito longe ou muito rapidamente ao final. Os éxcitons no Re6Se8Cl2, por sua vez, são comparativamente muito mais lentos. Mas é precisamente porque eles são tão lentos que são capazes de se encontrar e emparelhar com os fônons acústicos, igualmente lentos. As quasipartículas resultantes são "pesadas" e, como a tartaruga, avançam lenta, mas continuamente. Sem serem impedidos por outros fônons ao longo do caminho, os éxcitons-polarons acústicos no Re6Se8Cl2 se movem mais rápido que os elétrons no silício e chegam muito mais longe.
Como muitos dos materiais quânticos emergentes, o novo semicondutor super-rápido pode ser descascado em folhas monoatômicas, uma característica que significa que ele pode potencialmente ser combinado com outros materiais semelhantes em busca por propriedades únicas adicionais.
No entanto, é improvável que o Re6Se8Cl2 chegue a um produto comercial - o primeiro elemento da molécula, o rênio, é um dos mais raros da Terra e, como resultado, extremamente caro. Por conta disso, a equipe pretende usar o que aprendeu com o semicondutor ultrarrápido para encontrar outros materiais superatômicos que façam o mesmo por um preço menor.