Redação do Site Inovação Tecnológica - 08/10/2018
Traje espacial para bactérias
Assim como os trajes espaciais ajudam os astronautas a sobreviver em ambientes inóspitos, trajes espaciais para bactérias permitem que esses microrganismos sobrevivam em ambientes que os matariam se eles estivessem sem proteção.
Zhe Ji e seus colegas da Universidade da Califórnia em Berkeley desenvolveram as roupas de proteção para prolongar a vida útil das bactérias e fazê-las trabalhar por mais tempo na produção de biocombustíveis e vários outros produtos químicos.
O traje bacteriano consiste em um sistema poroso dotado de semicondutores absorvedores de luz para capturar dióxido de carbono (CO2) e usar as bactérias para converter o gás em produtos químicos que podem ser usados pela indústria ou, no futuro, em colônias espaciais.
O sistema imita a fotossíntese das plantas. Mas, enquanto as plantas capturam o dióxido de carbono e, com a energia da luz solar, convertem-no em carboidratos, o sistema híbrido captura CO2 e luz para produzir uma variedade de compostos de carbono, dependendo do tipo de bactéria.
Biorreatores químicos
As bactérias usadas no experimento são anaeróbicas, o que significa que elas estão adaptadas para viver em ambientes sem oxigênio. O traje espacial bacteriano - uma colcha de retalhos de um material conhecido como estrutura metal-orgânica, ou MOF - é impermeável ao oxigênio e às moléculas reativas de oxigênio, como o peróxido, que diminuem a vida útil das bactérias.
O sistema aproveita a capacidade de capturar a luz dos semicondutores para injetar elétrons para as bactérias anaeróbicas, que normalmente coletam elétrons do ambiente para viver. O objetivo é aumentar a captura de carbono pelas bactérias para produzir mais compostos de carbono úteis.
Assim, o sistema pode ser benéfico para a indústria e para o meio ambiente: Ele pode capturar dióxido de carbono emitido por usinas elétricas e transformá-lo em combustíveis, por exemplo. Ou pode fornecer uma maneira biológica de produzir produtos químicos necessários em ambientes artificiais, como naves espaciais e habitats em outros planetas.
"Nós estamos usando nosso bio-híbrido para fixar CO2 para produzir combustíveis, produtos farmacêuticos e químicos, e também para fazer a fixação de nitrogênio para produzir fertilizantes. Se Matt Damon [no filme Perdido em Marte] quiser cultivar batatas em Marte, ele precisa de fertilizantes," disse o professor Peidong Yang, cuja equipe vem fazendo progressos significativos no campo da fotossíntese artificial.
Commodities químicas
A equipe agora está trabalhando para melhorar a eficiência do sistema híbrido - captura de luz, transferência de elétrons e produção de compostos específicos - com vistas a combinar essas capacidades com novas rotas metabólicas nas bactérias para produzir moléculas cada vez mais complexas.
"Uma vez que você tenha capturado ou ativado o CO2 - e essa é a parte mais difícil - você pode usar muitas abordagens químicas e biológicas para transformá-lo em combustíveis, produtos farmacêuticos e commodities químicas," disse Yang.
De fato, as bactérias que fermentam o álcool na cerveja e no vinho, ou transformam o leite em queijo e iogurte, são todas anaeróbicas, e podem gostar das roupas espaciais.