Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/11/2021
Biossegurança espacial
A era da exploração espacial traz consigo um novo risco para a humanidade: O risco de uma invasão.
Mas o perigo para o qual cientistas estão emitindo um alerta agora não vem de homenzinhos verdes chegando em discos voadores, mas da contaminação microbiológica da Terra por organismos extraterrestres e vice-versa.
O alerta vem de uma equipe da Austrália e do Canadá, em um artigo no qual eles descrevem os perigos representados por esses organismos e delineiam uma abordagem para enfrentar a ameaça.
"Devido aos seus enormes custos para os setores de recursos e saúde humana, as invasões biológicas são um problema de biossegurança global que requer soluções transfronteiriças rigorosas," escrevem Anthony Ricciardi e seus colegas.
A chamada "biossegurança espacial" defendida pela equipe se preocupa tanto com a transferência de organismos da Terra para o espaço (contaminação para frente) quanto a chegada na Terra de organismos do espaço (contaminação para trás).
Organismos
Embora a pesquisa indique que atualmente o risco de organismos alienígenas sobreviverem à jornada é baixo, ela não é impossível.
"Cepas bacterianas que apresentam uma resistência extrema à radiação ionizante, dessecação e desinfetantes foram isoladas em 'salas limpas' da NASA usadas para a montagem de espaçonaves," exemplifica a equipe.
Eles citam ainda evidências de como os humanos espalharam organismos para as regiões mais remotas da terra e do mar, e até mesmo para o espaço.
"Além das missões espaciais lideradas pelos governos, a chegada de empresas privadas, como a SpaceX, significa que agora há mais participantes na exploração espacial do que nunca," disse o professor Phill Cassey, membro da equipe. "Precisamos agir agora para mitigar esses riscos."
E há também o risco de que microrganismos cheguem por contra própria: Há anos cientistas alertam que a hipótese da panspermia - a distribuição da vida entre corpos celestes - é uma via de duas mãos, além de haver indícios de que os vírus provavelmente também existem no espaço, podendo cair em qualquer corpo celeste, incluindo a Terra.
Ciência da Invasão
A boa notícia é que a equipe cita que já existe uma emergente e florescente "ciência da invasão", que lida com as causas e consequências da introdução de organismos em novos ambientes.
Se a ameaça existe, então se torna essencial desenvolver protocolos para detecção precoce de ameaças, avaliação de perigos, resposta rápida e procedimentos de contenção, similares aos já usados atualmente para lidar com ameaças de espécies invasoras.
"A pesquisa em ciência de invasão produziu novos insights para a epidemiologia, a evolução rápida, a relação entre biodiversidade e estabilidade da comunidade e a dinâmica das interações predador-presa e parasita-hospedeiro, entre muitos outros conceitos," descreve a equipe.
Ao avaliar se as práticas adotadas para espécies invasoras entre ambientes terrestres podem ser eficazes para lidar com potenciais contaminantes extraterrestres, a equipe destaca que a parte mais difícil é justamente a detecção da invasão. Para isso, eles propõem a adoção de equipamentos específicos para a tarefa, como aparelhos portáteis de sequenciamento de DNA em tempo real, e o desenvolvimento de bancos de dados de contaminantes conhecidos.