Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/09/2024
Contestações ao Big Bang
O professor Lior Shamir, da Universidade do Estado do Kansas, nos EUA, pertence ao crescente grupo de cientistas que acreditam que nossa visão do Universo está ultrapassada e que já está passando da hora de rever nosso modelo padrão cosmológico.
Agora, ele reuniu dados observacionais para reavivar uma teoria formulada há mais de um século, uma teoria que contesta frontalmente a validade do modelo do Big Bang.
Shamir usou imagens de três telescópios e mais de 30.000 galáxias para medir o desvio para o vermelho das galáxias com base em sua distância da Terra. Desvio para o vermelho é a mudança na cor das ondas de luz que uma galáxia emite, que os astrônomos usam para medir a velocidade da galáxia - se o Universo está se expandindo, a galáxia está se afastando, o que equivale a esticar as ondas, fazendo a cor da luz mudar, tendendo para o vermelho.
Mas, em vez de embasar a teoria do Big Bang e a expansão da Universo, os dados dão suporte a uma teoria centenária, conhecida como "teoria da luz cansada".
"Na década de 1920, Edwin Hubble e George Lemaitre descobriram que, quanto mais distante a galáxia está, mais rápido ela se afasta da Terra", contextualizou Shamir. "Essa descoberta levou à teoria do Big Bang, sugerindo que o Universo começou a se expandir há cerca de 13,8 bilhões de anos."
É esta ideia, largamente aceita, que o pesquisador diz não ter embasamento em seus dados.
Teoria da luz cansada
Acontece que, logo depois do trabalho de Hubble e Lemaitre, em 1929, o astrônomo suíço Fritz Zwicky (1898-1974) propôs que as galáxias que estavam mais distantes da Terra não estavam realmente se movendo mais rápido - foi o mesmo Zwicky que propôs a noção de matéria escura, em 1933.
A alegação de Zwicky era que o desvio para o vermelho observado da Terra não é porque as galáxias se movem, mas porque os fótons de luz perdem sua energia conforme viajam pelo espaço. Quanto mais a luz viaja, mais energia ela perde, levando à ilusão de que galáxias que estão mais distantes da Terra também se movem mais rápido. Isso levou sua ideia a ser conhecida como "hipótese da luz cansada".
"A teoria da luz cansada foi amplamente negligenciada, conforme os astrônomos adotaram a teoria do Big Bang como o modelo de consenso do Universo," disse Shamir.
"Mas a confiança de alguns astrônomos na teoria do Big Bang começou a enfraquecer quando o poderoso telescópio espacial James Webb viu a primeira luz. O Webb forneceu imagens profundas do Universo muito primitivo, mas, em vez de mostrar um Universo primitivo infantil como os astrônomos esperavam, mostrou galáxias grandes e maduras. Se o Big Bang aconteceu como os cientistas acreditavam inicialmente, essas galáxias são mais velhas que o próprio Universo," detalhou o pesquisador.
Velocidade rotacional
Embora essas novas imagens por si sós lancem dúvidas sobre o Big Bang, Shamir usou outra técnica, a velocidade rotacional constante da Terra ao redor do centro da Via Láctea, para examinar o desvio para o vermelho de galáxias que se movem em velocidades diferentes em relação à Terra. Isso permitiu testar como a mudança no desvio para o vermelho responde à mudança na velocidade.
"Os resultados mostraram que as galáxias que giram na direção oposta em relação à Via Láctea têm menor desvio para o vermelho em comparação com as galáxias que giram na mesma direção em relação à Via Láctea," resumiu Shamir. "Essa diferença reflete o movimento da Terra enquanto ela gira com a Via Láctea."
"Mas os resultados também mostraram que a diferença no desvio para o vermelho aumentou quando as galáxias estavam mais distantes da Terra. Como a velocidade rotacional da Terra em relação às galáxias é constante, a razão para a diferença pode ser a distância das galáxias da Terra. Isso mostra que o desvio para o vermelho das galáxias muda com a distância, que é o que Zwicky previu em sua teoria da luz cansada," concluiu o astrofísico.