Redação do Site Inovação Tecnológica - 20/05/2016
Relógio atômico e relógio nuclear
Parecia improvável que alguém pudesse reclamar da precisão dos relógios atômicos, nossos cronômetros mais precisos. O recordista atual atrasaria no máximo um segundo em 20 bilhões de anos - o que é bastante se comparado com os 13,7 bilhões de anos que os cientistas calculam como sendo a idade do Universo.
Pois não apenas é desejável superar essa precisão para inúmeras aplicações práticas, como também agora é possível fazer isso.
Mas o que pode superar a precisão dos relógios atômicos?
Os relógios nucleares que, em vez de se basearem no átomo inteiro, usarão apenas seu núcleo, que é 100 mil vezes menor e, portanto, está muito menos sujeito a interferências externas.
Núcleo atômico único
Os físicos sonham com os relógios nucleares há muito tempo, mas só agora Lars von der Wense e seus colegas da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, na Alemanha, conseguiram demonstrar experimentalmente um estado de energização há muito tempo procurado - um isômero nuclear em um isótopo do elemento tório (Th).
Embora sejam conhecidos mais de 3.300 tipos de núcleos atômicos, apenas o núcleo do isótopo de tório com massa atômica 229 (Th-229m) oferece uma base adequada para um relógio nuclear. Ele é o único a apresentar um estado de excitação - ganho de energia - que fica apenas ligeiramente acima do seu estado fundamental.
Como ele não ocorre naturalmente, há 40 anos os físicos tentavam produzi-lo em laboratório para ver se a teoria está correta.
"Espera-se que o Th-229m apresente uma meia-vida muito longa, entre minutos e várias horas. Assim, deve ser possível medir com precisão extremamente alta a frequência da radiação emitida quando o estado nuclear excitado cair de volta para o estado fundamental," explica o professor Peter Thirolf.
Meia-vida
A possibilidade de construir um relógio nuclear tornou-se realidade quando a equipe conseguiu detectar diretamente pela primeira vez a transição do Th-229m.
Eles usaram urânio-233 que, ao sofrer um decaimento radioativo alfa, gerou o tório-229, que foi então isolado na forma de um feixe de íons. Parece fácil, mas eles descreveram seu experimento como um tour de force, uma proeza fruto de muito esforço e habilidade - basta ver que ninguém mais havia conseguido em mais de 40 anos de tentativas.
O próximo passo será caracterizar as propriedades da transição nuclear do tório 229 de forma mais precisa, particularmente a meia-vida do isômero, e checar se a diferença de energia entre os dois estados bate com o que a teoria prevê.
Esses dados permitirão definir um laser que possa ser ajustado para a frequência de transição, o que é um pré-requisito para um controle óptico dessa transição, tornando então realidade o relógio nuclear.