Com informações da EFDA - 25/01/2013
Roteiro para energia da fusão
A Agência Europeia para o Desenvolvimento da Fusão Nuclear (EFDA) publicou um roteiro que descreve os passos para fornecer energia elétrica baseada em fusão nuclear à rede pública.
Os técnicos da agência preveem que isso possa acontecer por volta de 2050.
O documento, chamado Roteiro para a Concretização da Energia de Fusão, organiza este processo em uma sequência de "missões".
Para cada missão, é analisado o estado atual das pesquisas, são identificadas as questões em aberto, é proposto um programa de pesquisa e desenvolvimento e são estimados os recursos necessários.
O roteiro aponta a necessidade de intensificar o envolvimento industrial e de maximizar as oportunidades de colaboração fora da Europa - o experimento de fusão nuclear ITER está localizado na França, embora seja uma parceria internacional envolvendo, além da União Europeia, China, Índia, Japão, Rússia, Coréia do Sul e Estados Unidos.
Energia da fusão nuclear
O objetivo das pesquisas em fusão nuclear é replicar na Terra o mecanismo de geração de energia das estrelas, através da fusão de núcleos de hidrogênio. A energia de fusão é praticamente ilimitada, uma vez que se baseia em matérias-primas abundantes: deutério e lítio.
A fusão nuclear, ao contrário da fissão nuclear, usada pelas bombas atômicas, é uma fonte de energia limpa, não gerando resíduos radioativos de longa duração e nem gases de efeito de estufa. Ela é também intrinsecamente segura, uma vez que o processo não produz reações em cadeia.
Outros experimentos já conseguiram gerar energia a partir da fusão nuclear controlada, mas, por enquanto, é preciso fornecer mais energia do que aquela que se consegue extrair.
O experimento internacional ITER, que começará a funcionar em 2020, será o primeiro dispositivo a alcançar um excedente de energia de fusão: serão obtidos 500 megawatts a partir de uma energia inicial de 50 megawatts.
Ainda assim, o ITER, que custará três vezes mais do que o LHC, será apenas um laboratório, abrindo as portas para a criação de futuras usinas de fusão nuclear comerciais.
Fissão nas parcerias
Embora não explicite a questão, o documento europeu vem se somar a outros indícios de que, vencida a etapa inicial, cada região deverá prosseguir seu rumo independentemente em busca da fusão nuclear.
Isso por razões econômicas e estratégicas - o poder auferido pelo domínio da tecnologia de fusão nuclear seria quase tão grande quanto a própria energia gerada -, mas também por razões científicas, já que nem todos os físicos concordam em qual é o melhor caminho para domar a energia das estrelas.
A China, por exemplo, está lançando um programa agressivo destinado à produção de eletricidade baseada em fusão nuclear muito antes de 2050.
"A Europa só pode manter o ritmo se concentrar os seus esforços e seguir uma abordagem pragmática para a energia de fusão", afirmou Francesco Romanelli, diretor da EFDA.
Enquanto isso, os Estados Unidos continuam investindo na fusão nuclear a laser.
ITER e DEMO
O projeto europeu começa fundamentado no ITER, mas depois aponta para caminhos regionais.
O roteiro abrange três períodos: o próximo Programa-Quadro Europeu de Investigação, chamado Horizonte 2020, o período 2021-2030 e o período 2031-2050.
O ITER é a principal aposta desse roteiro, uma vez que é lá que se espera que sejam atingidos muitos dos marcos mais relevantes no caminho para a energia de fusão.
Assim, a grande maioria dos recursos propostos para o Horizonte 2020 são dedicados ao ITER e às suas experiências de acompanhamento.
O segundo período é centrado na maximização da exploração do ITER e na preparação da construção de uma central de demonstração - DEMO - que será a primeira a fornecer energia de fusão para a rede elétrica.
Finalmente, a construção e operação do DEMO são o objetivo da derradeira fase do roteiro, a se completar por volta de 2050.
Do público ao privado
Outra novidade da proposta europeia é que o programa de fusão nuclear evoluirá de uma perspectiva centrada nos laboratórios e na ciência rumo a um empreendimento orientado para a indústria e a tecnologia.
Não é para menos: só a construção do ITER já movimenta um volume de negócios de cerca de €6 bilhões - há poucos dias foi assinado o contrato para construção do prédio principal do complexo, onde ficará o Tokamak, a um custo de €300 milhões.
O novo roteiro privatiza o restante do caminho: a concepção, construção e operação da usina DEMO terão um envolvimento total da indústria.
Segundo o documento, o objetivo é assegurar que, após um período inicial de testes, a iniciativa privada possa assumir a responsabilidade pela comercialização da energia de fusão nuclear - ou seja, os custos iniciais, de alto risco, serão públicos, mas os lucros, de menor risco, serão privados.