Redação do Site Inovação Tecnológica - 18/02/2022
Gaia consciente
Está na hora de dar um upgrade na hipótese Gaia, indo um passo além e arguindo consciência para um planeta repleto de vida.
Esta é a ideia apresentada agora por Adam Frank (Universidade de Rochester), David Grinspoon e Sara Walker (Universidade do Estado do Arizona).
A hipótese Gaia, de autoria do professor James Lovelock, vem sendo a referência fundamental para explicar como a vida persistiu na Terra apesar do dinamismo do planeta. Ela propõe que a biosfera interage fortemente com os sistemas geológicos não-vivos de ar, água e terra para manter o estado habitável da Terra.
Considere, por exemplo, as plantas: As plantas "inventaram" uma maneira de fazer fotossíntese para aumentar sua própria sobrevivência, mas, ao fazê-lo, elas liberaram oxigênio, que mudou tudo no nosso planeta. Este é apenas um exemplo de formas de vida individuais realizando suas próprias tarefas, mas tendo coletivamente um impacto em escala planetária.
Mas o que o trio está propondo agora vai além: Se a atividade coletiva da vida - conhecida como biosfera - pode mudar o mundo, será que a atividade coletiva da cognição e a ação baseada nessa cognição também podem mudar um planeta? Uma vez que a biosfera evoluiu, a Terra ganhou vida própria; se um planeta com vida tem vida própria, ele também pode ter mente própria?
E não é apenas especulação: Naquilo que eles chamam "experimento de pensamento", os pesquisadores combinam a compreensão científica atual sobre a Terra com questões mais amplas sobre como a vida altera um planeta.
Eles usam o que chamam de "inteligência planetária" - a ideia de uma atividade cognitiva operando em escala planetária - para levantar novas ideias sobre as maneiras pelas quais os humanos podem lidar com questões globais, como as mudanças climáticas.
Homem a serviço do planeta
O trio começa fundamentando seu experimento mental citando os estudos recentes de biologia que demonstraram como as raízes das árvores em uma floresta se conectam através de redes subterrâneas de fungos, conhecidas como redes micorrízicas.
Se uma parte da floresta precisa de nutrientes, as outras partes enviam às porções estressadas os nutrientes de que precisam para sobreviver, através da rede micorrízica. Dessa forma, a floresta mantém sua própria viabilidade.
Mas tem também o homem.
No momento, nossa civilização é o que os pesquisadores chamam de "tecnosfera imatura", um conglomerado de sistemas e tecnologias produzidas por humanos que afeta diretamente o planeta, mas não é autossustentável.
Por exemplo, a maior parte do nosso uso de energia envolve o consumo de combustíveis fósseis, que degradam os oceanos e a atmosfera da Terra. A tecnologia e a energia que consumimos para sobreviver estão afetando o planeta, o que, por sua vez, pode ameaçar nossa espécie.
Seria razoável então que, para sobreviver como espécie, precisamos trabalhar coletivamente no melhor interesse do planeta. "Mas ainda não temos a capacidade de responder comunitariamente pelos melhores interesses do planeta. Há inteligência na Terra, mas não há inteligência planetária," disse Frank.
A esperança está no "ainda" expresso por Frank: Pode ser que estejamos em um processo evolutivo, e apenas "ainda" não tenhamos chegado lá. E, agora que sabemos que a evolução biológica não é aleatória como os cientistas pensavam, e dada a capacidade do homem de tomar ações pensadas, talvez possamos acelerar isto.
Rumo à inteligência planetária
Os pesquisadores postulam quatro estágios do passado e possível futuro da Terra para ilustrar como a inteligência planetária pode desempenhar um papel no futuro de longo prazo da humanidade. Eles também mostram como esses estágios de evolução impulsionados pela inteligência planetária podem ser uma característica de qualquer planeta da galáxia que evolua a vida e uma civilização tecnológica sustentável.
"Os planetas evoluem através de estágios imaturos e maduros, e a inteligência planetária é indicativa de quando você chega a um planeta maduro," disse Frank. "A questão de um milhão de dólares é descobrir como é a inteligência planetária e o que ela significa para nós na prática, porque ainda não sabemos como avançar para uma tecnosfera madura."
Complexidade da inteligência planetária
Embora ainda não saibamos especificamente como a inteligência planetária pode se manifestar, os pesquisadores observam que uma tecnosfera madura envolve a integração de sistemas tecnológicos com a Terra por meio de uma rede de ciclos de realimentação que compõem um sistema complexo.
Um sistema complexo é qualquer coisa construída a partir de partes menores que interagem entre si de tal forma que o comportamento geral do sistema é inteiramente dependente da interação. Ou seja, o todo é mais do que a soma de suas partes. Exemplos de sistemas complexos incluem florestas, a internet, os mercados financeiros e o cérebro humano.
Por sua própria natureza, um sistema complexo tem propriedades inteiramente novas, que emergem quando peças individuais estão interagindo. É difícil discernir a personalidade de um ser humano, por exemplo, examinando apenas os neurônios em seu cérebro.
Isso significa que é difícil prever exatamente quais propriedades podem emergir quando indivíduos formam uma inteligência planetária. No entanto, um sistema complexo, como uma inteligência planetária, terá, segundo os pesquisadores, duas características definidoras: Ela terá um comportamento emergente e precisará ser autossustentável.
"A biosfera descobriu como hospedar a vida por si mesma bilhões de anos atrás criando sistemas para movimentar nitrogênio e transportar carbono," disse Frank. "Agora temos que descobrir como ter o mesmo tipo de características de automanutenção com a tecnosfera."