Redação do Site Inovação Tecnológica - 01/07/2020
Metal vira semicondutor
Químicos conseguiram pela primeira vez produzir camadas cristalinas monoatômicas de metais preciosos - similares metálicos do grafeno, da molibdenita e tantos outros materiais 2D.
E como o ouro e a prata estão entre os melhores condutores de eletricidade que se conhece, qual não foi a surpresa dos pesquisadores quando as camadas monoatômicas desses dois metais apresentaram uma identidade inusitada: elas são semicondutoras.
O fato de que camadas monoatômicas de metais se comportem como semicondutores é mais uma demonstração de que os elétrons se comportam de modo diferente em camadas bidimensionais do que costumam fazer no material bruto 3D - as propriedades eletrônicas do grafeno são muito diferentes daquelas do grafite, de onde o material se origina.
E, como ouro e prata estão largamente presentes na indústria microeletrônica, esta descoberta tem potencial para ser explorada em novas aplicações dentro e fora dos chips, além de sensores.
Metais bidimensionais
Embora o grafeno tenha sido retirado do grafite usando uma fita adesiva, fabricar camadas monoatômicas de metais não é fácil.
"Com os métodos clássicos de deposição, os átomos de ouro, por exemplo, se aglomerariam imediatamente em cachos tridimensionais," explicam Philipp Rosenzweig e Ulrich Starke, do Instituto de Pesquisas do Estado Sólido, na Alemanha.
A dupla então trabalhou com um método diferente que eles mesmos criaram, chamado intercalação. O processo começa com uma pastilha de carbeto de silício, sobre a qual é depositada uma camada de grafeno. Quando um vapor de ouro é aplicado sobre essa pastilha em ambiente de vácuo, os átomos de ouro acomodam-se entre as camadas de carbeto de silício e grafeno.
A equipe já repetiu os experimentos com germânio, cobre, gadolínio e prata - e a prata também se torna semicondutora.
Aplicações tecnológicas
Como todas as teorias diziam que o ouro continuaria um excelente condutor metálico na forma 2D, a descoberta de seu comportamento semicondutor foi uma surpresa. "Interações entre os átomos de ouro e, ou o carbeto de silício ou o grafeno, obviamente desempenham seu papel aqui. Isso influencia os níveis de energia dos elétrons," arrisca Starke.
A descoberta abre a possibilidade de aplicações tecnológicas porque pequenos ajustes no método de fabricação definem se a camada monoatômica será condutora ou semicondutora: qualquer coisa maior do que uma camada, seja em toda a extensão do material, ou em pontos específicos, faz o ouro voltar a se tornar condutor. Assim, pode-se projetar componentes eletrônicos usando-se alternadamente mono e bi-camadas de ouro, obtendo funcionalidades usando um único material.