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Energia

Fusão nuclear com combustível líquido usando ondas de choque

Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/07/2023

Concha de ondas de choque pode segurar combustível da fusão nuclear
Este é o laser que permitiu comprovar experimentalmente a formação das conchas virtuais em torno do combustível.
[Imagem: J. Adam Fenster/U. Rochester]

Cápsula dinâmica

Uma equipe internacional conseguiu demonstrar experimentalmente uma abordagem que deverá acelerar muito o desenvolvimento da fusão nuclear, que promete uma fonte de energia virtualmente limpa e quase inesgotável.

Igor Igumenshchev e seus colegas confirmaram a formação de uma concha dinâmica, uma carapaça esférica que os teóricos haviam previsto que deveria se formar ao redor do deutério e do trício, os isótopos de hidrogênio usados como combustível para a fusão nuclear.

E essa carapaça não é física no sentido trivial - ela não é concreta, é formada por ondas de choque que se formam conforme o combustível é pressionado para que seus átomos se fundam.

Isto significa que pode não ser necessário construir as complicadas e delicadas cápsulas onde o combustível da fusão nuclear é colocado.

Ignição da fusão nuclear

Quando pesquisadores do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, nos EUA, conseguiram fazer a ignição da fusão nuclear no ano passado, eles dirigiram um conjunto de 192 feixes de laser sobre uma cápsula de dois milímetros contendo o combustível, chamada hohlraum.

O aquecimento quase instantâneo faz essa cápsula implodir, comprimindo os átomos em seu interior, que então se fundem - esta é a fusão nuclear, que libera uma quantidade enorme de energia.

Assim, não é difícil de concluir que a construção dessa cápsula é o elemento mais sensível de toda a operação da usina, já que ela precisa colapsar com uma homogeneidade quase perfeita, algo que está longe de ser alcançado.

É aí que entra essa "cápsula dinâmica", que consiste em uma concha que se forma em volta dos átomos do combustível, bastando para isso congelá-los adequadamente, simplificando muito o processo de fusão por confinamento inercial, uma das mais promissoras para tornar prática a fusão nuclear.

Concha de ondas de choque pode segurar combustível da fusão nuclear
Na primeira linha, o conceito de concha dinâmica para ignição direta da fusão nuclear. Na linha inferior, três técnicas de visualização mostrando a formação da "carapaça" virtual durante os experimentos realizados agora.
[Imagem: Igor V. Igumenshchev et al. - 10.1103/PhysRevLett.131.015102]

Cápsula de ondas de choque

Em 2020, Valeri Goncharov, da Universidade de Rochester, liderou uma equipe que propôs a ideia da concha dinâmica.

Essa formação de concha dinâmica foi apresentada como um método alternativo para criar alvos nos quais uma gota líquida de deutério e trício é injetada em uma cápsula de espuma. Quando bombardeada pelos pulsos de laser, a cápsula gera uma concha esférica criada por ondas de choque, então implode e colapsa, resultando na ignição da fusão nuclear.

"Depois de saltar do centro, o choque refletido alcança a superfície externa da esfera e o material que recebe o choque começa a se expandir para fora. A contra-pressão de ablação acaba interrompendo essa expansão, e subsequentemente lança um choque em direção ao centro do alvo, comprimindo o ablator e o combustível e formando uma casca," descreveram Goncharov e seus colegas.

Assim, tirar proveito dessa concha dispensa a cara e complexa camada criogênica que os métodos convencionais de geração de energia de fusão inercial empregam - em vez deles, usa-se alvos líquidos, que serão muito mais fáceis de fazer.

Concha de ondas de choque pode segurar combustível da fusão nuclear
Esta é a cápsula de combustível (esquerda) usada hoje, e um esquema do que acontece com ela (direita) quando os lasers são disparados.
[Imagem: NIF/LLNL]

Combustível líquido para fusão

Agora, em um experimento de prova de princípio em escala reduzida, Igumenshchev, Goncharov e seus colegas usaram o laser Ômega, da Universidade de Rochester, para moldar uma esfera de espuma plástica com a mesma densidade do combustível líquido deutério-trício.

A casca de ondas de choque se desenvolveu como previsto na teoria, demonstrando uma etapa crítica no conceito de concha dinâmica.

Para realmente gerar fusão usando a técnica de formação dinâmica de concha, será necessário desenvolver lasers com pulsos mais longos e de maior energia, mas o experimento feito agora sugere que a formação dinâmica de concha pode ser viável como um caminho para reatores de energia de fusão mais práticos.

Bibliografia:

Artigo: Proof-of-Principle Experiment on the Dynamic Shell Formation for Inertial Confinement Fusion
Autores: Igor V. Igumenshchev, W. Theobald, C. Stoeckl, R. C. Shah, D. T. Bishel, Valeri Goncharov, M. J. Bonino, E. M. Campbell, Luke Ceurvorst, D. A. Chin, T. J. B. Collins, S. Fess, D. R. Harding, Sid Sampat, Nathaniel Shaffer, Alexander Shvydky, E. A. Smith, W. T. Trickey, L. J. Waxer, Arnaud Colaitis, R. Liotard, P. J. Adrian, S. Atzeni, Francesco Barbato, L. Savino, N. Alfonso, A. Haid, Mi Do
Revista: Physical Review Letters
Vol.: 131, 015102
DOI: 10.1103/PhysRevLett.131.015102

Artigo: Novel Hot-Spot Ignition Designs for Inertial Confinement Fusion with Liquid-Deuterium-Tritium Spheres
Autores: V. N. Goncharov, I. V. Igumenshchev, D. R. Harding, S. F. B. Morse, S. X. Hu, P. B. Radha, D. H. Froula, S. P. Regan, T. C. Sangster, E. M. Campbell
Revista: Physical Review Letters
Vol.: 125, 065001
DOI: 10.1103/PhysRevLett.125.065001
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