Com informações da Agência Fapesp - 12/04/2012
Pesquisas oceanográficas
Alpha Crucis, o novo navio oceanográfico brasileiro, está a caminho do país onde deverá chegar em 10 de Maio.
O navio, que originalmente se chamava Moana Wave, foi fabricado em 1973, e passou por uma reforma de 10 meses em Seattle (Estados Unidos), para se adequar aos objetivos de pesquisas.
Ele tem 64 metros de comprimento, 11 metros de largura e capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972 toneladas.
O navio foi adquirido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) para a Universidade de São Paulo (USP), que ficará responsável pela manutenção e gestão da embarcação. O custo total da embarcação, incluindo a reforma, foi de US$ 11 milhões.
De acordo com o diretor do Instituto Oceanográfico da USP, Michel Michaelovitch Mahiques, o navio deverá levar a capacidade de pesquisas oceanográficas a um patamar inédito no Brasil.
O país não tinha um navio oceanográfico civil em operação desde 2008, quando o navio Professor W. Besnard, utilizado desde 1967, sofreu um incêndio e ficou sem condições operacionais de pesquisa.
Robôs submarinos
"O Alpha Crucis proporcionará um imenso salto qualitativo na pesquisa oceanográfica. Uma das razões para isso é que ele tem capacidade para navegar por 40 dias, enquanto o Professor Besnard tinha autonomia limitada a 15 dias. Isso significa que o novo navio poderá fazer estudos em oceano aberto, ampliando nossos limites geográficos de pesquisa", disse Mahiques.
Além da maior autonomia, o Alpha Crucis dispõe de equipamentos que não estavam disponíveis no Professor Besnard, o que amplia a gama de possibilidades de pesquisa.
"Alguns desses equipamentos viabilizarão estudos de cardumes, de mapeamento de relevo de fundo, de medição de correntes, por exemplo, que antes seriam impossíveis. O potencial de pesquisa é muito maior", disse Mahiques.
Com o novo navio também será possível operar um veículo submersível operado remotamente (ROV, na sigla em inglês) de pequenas dimensões. O Alpha Crucis também ampliará a capacidade de pesquisa para além de estudos estritamente oceanográficos.
Reforma do navio
Nos últimos 10 meses, várias reformas e modificações foram realizadas na embarcação, no estaleiro onde se encontrava em Seattle.
"A reforma teve duas vertentes. Uma delas correspondeu às adaptações necessárias para que o navio, fabricado em 1973, atendesse à legislação brasileira atual referente à segurança de embarcações. A segunda vertente foi voltada para modernizar o navio, atendendo às demandas da pesquisa científica", disse.
A adequação à legislação exigiu a substituição de diversas paredes e a troca do material do forro e do piso. Toda a mobília de madeira foi substituída por metal e foram também instalados novos equipamentos de segurança. A modernização incluiu a reforma de todos os laboratórios a bordo, além da instalação de novos elementos na ponte de comando, novos guinchos e novos equipamentos científicos.
"O Alpha Crucis está concretamente pronto para operar. Mas, quando atracar em Santos, ainda será preciso realizar o processo de nacionalização do navio junto à Receita Federal. Em seguida, será realizado o trâmite burocrático de transferência da propriedade da FAPESP para a USP. A partir de julho, o navio deverá ter condições para operar de fato", explicou Mahiques.
Instrumentos científicos
Foram instalados no navio perfiladores acústicos de corrente, sistemas de mapeamento de fundo - um deles conhecido como ecossonda multifeixe -, sistemas de mapeamento de subsuperfície, que permitem estudar as camadas abaixo do fundo do mar, e sistemas acústicos de mensuração de cardumes.
"Um dos acréscimos mais importantes foi a instalação de um sistema de posicionamento dinâmico. Embora não seja um equipamento de pesquisa, é um instrumento de navegação que dará mais qualidade aos dados", disse Mahiques.
O sistema de posicionamento dinâmico - que inclui sensores aliados a hélices na proa do navio e um sistema de lemes independente - permite que o navio corrija continuamente, de forma automática, sua posição no mesmo ponto do oceano.
"Quando começávamos uma estação oceanográfica com o Professor Besnard, o vento e a corrente deslocavam o navio continuamente. Quando era preciso ficar muito tempo em uma estação, isso exigia manobras para voltar ao ponto o tempo todo. Com o posicionamento dinâmico, o navio fica parado automaticamente, garantindo que não haja deriva, tornando os dados mais fidedignos", explicou Mahiques.
Afundamento do Professor Besnard
A chegada do Alpha Crucis traz preocupações quanto ao destino do navio Professor Besnard.
Atualmente o Professor Besnard está atracado em frente ao Armazém 8, no porto de Santos, exatamente no local onde ficará o Alpha Crucis.
O IO-USP está pleiteando a cessão do Armazém 8 para a criação de uma base oceanográfica.
Se o caso não for solucionado rapidamente, o Professor Besnard precisará ser afundado.
Além do Alpha Crucis, o incremento da capacidade de pesquisa oceanográfica da USP inclui o Alpha Delfini, o primeiro barco oceanográfico inteiramente construído no Brasil.
"O Alpha Delfini terá 25 metros de comprimento e autonomia de 10 a 15 dias. A construção está avançada e o barco deverá ter condições de operação no segundo semestre de 2012", disse Mahiques.