Redação do Site Inovação Tecnológica - 02/01/2023
Quando o tempo é curto demais
Com que velocidade os elétrons dentro de uma molécula se movem? É rápido, levando apenas alguns attossegundos para que um elétron pule de um átomo para outro.
Como 1 attossegundo equivale a 10-18 segundo, pisque e você perdeu o salto milhões de bilhões de vezes - 1 attossegundo está para 1 segundo assim como 1 segundo está para a idade do Universo.
Não por acaso, medir esses processos ultrarrápidos é uma tarefa desafiadora, mas uma tarefa essencial para compreender fenômenos tão importantes quanto a fotossíntese, as reações químicas, o funcionamento dos transistores mais rápidos, as células solares e muitos etecéteras.
É por isso que inúmeras equipes ao redor do mundo continuam trabalhando nisso.
Zeptossegundos
O resultado mais recente acaba de ser anunciado por uma equipe australiana, que desenvolveu uma nova técnica interferométrica capaz de medir tempos com resolução de zeptossegundos, ou 10-21 segundo - o recorde de menor tempo já medido está na faixa dos zeptossegundos.
Eles usaram essa técnica para medir a diferença de tempo entre pulsos de luz ultravioleta extrema emitidos por dois isótopos diferentes de moléculas de hidrogênio - H2 e D2 - interagindo com pulsos de laser infravermelho.
O retardo é de menos de três attossegundos e é causado por movimentos ligeiramente diferentes dos núcleos mais leves e mais pesados dos dois isótopos.
"Essa resolução de tempo sem precedentes é alcançada por meio de uma medição interferométrica - sobrepondo as ondas de luz atrasadas e medindo seu brilho combinado," contou a pesquisadora Mumta Mustary, da Universidade Griffith.
Medição interferométrica
As ondas de luz cujo retardo foi mensurado foram geradas por moléculas expostas a intensos pulsos de laser, um processo chamado geração de alto harmônico (GAH).
A GAH ocorre quando um elétron é removido de uma molécula por um forte pulso de laser, é acelerado pelo mesmo pulso e então se recombina com o íon, liberando a energia que havia recebido inicialmente na forma de radiação ultravioleta extrema (XUV). Tanto a intensidade quanto a fase dessa radiação emitida são sensíveis à exata dinâmica das funções de onda dos elétrons envolvidos no processo - todos os átomos e moléculas emitem radiação GAH de maneira diferente.
Embora seja relativamente simples medir a intensidade espectral da GAH - um simples espectrômetro de grade pode fazer isso - medir a fase de GAH é uma tarefa muito mais difícil. Mas vale a pena porque a fase contém as informações mais relevantes sobre a temporização das várias etapas do processo de emissão.
Para medir esta fase, é comum realizar uma medição interferométrica, na qual duas réplicas da onda com retardo finamente controlado são forçadas a se sobrepor (ou interferir) uma na outra. Elas podem interferir de modo construtivo ou destrutivo, dependendo do retardo e da diferença de fase relativa entre elas.
Essa medição é realizada por um aparelho chamado interferômetro. Mas é muito difícil construir um interferômetro para luz XUV, em particular para produzir e manter um retardo estável, conhecido e ajustável entre dois pulsos XUV.
Fase de Gouy
Mumta Mustary e seus colegas resolveram esse problema tirando vantagem de um fenômeno conhecido como fase Gouy, quando a fase de uma onda de luz é deslocada de uma certa maneira ao passar por um foco - o nome é uma homenagem ao físico francês Louis Georges Gouy (1854-1926).
Para seus experimentos, os pesquisadores usaram dois isótopos de hidrogênio molecular, que é a molécula mais simples da natureza. Os isótopos, conhecidos como hidrogênio leve (H2) e hidrogênio pesado (D2), diferem apenas na massa dos núcleos - prótons no H2 e deutérios no D2. Todo o resto, incluindo a estrutura eletrônica e as energias, são idênticos.
Devido à sua maior massa, os núcleos de D2 movem-se ligeiramente mais devagar do que os de H2. Como os movimentos nucleares e eletrônicos nas moléculas ficam acoplados, o movimento nuclear afeta a dinâmica das funções de onda dos elétrons durante o processo GAH (geração de alto harmônico), resultando em uma pequena mudança de fase entre os dois isótopos (δ φ H2 - D2).
Essa mudança de fase é equivalente a um retardo de tempo Δt = Δ φ H2 - D2 / ω, onde ω (ômega) é a frequência da onda XUV. Os cientistas mediram esse retardo de tempo de emissão para todos os harmônicos observados no espectro GAH, e constataram que ele é quase constante e ligeiramente abaixo de 3 attossegundos.