Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/07/2017
Subúrbio cósmico
Cosmologicamente falando, a Via Láctea e sua vizinhança parecem estar em uma região remota, afastada e distante dos grandes centros cósmicos.
Em um estudo observacional feito em 2013, Amy Barger e Ryan Keenan, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, concluíram que a nossa galáxia, no contexto da estrutura em larga escala do Universo, reside em um enorme vazio - uma região do espaço que contém muito menos galáxias, estrelas e planetas do que a média.
Agora, um novo estudo da mesma equipe não só dá suporte à ideia de que existimos em um dos buracos da estrutura parecida com um queijo suíço do cosmos, mas também ajuda a aliviar a discrepância entre as diferentes medições da constante de Hubble, a unidade que os cosmólogos usam para descrever a taxa em que o Universo está se expandindo hoje.
Velocidades de expansão diferentes
A discrepância na constante de Hubble vem do fato de que diferentes técnicas astrofísicas empregadas para medir a velocidade da expansão do universo dão resultados diferentes. "Não importa qual técnica você use, você deve obter o mesmo valor para a taxa de expansão do Universo hoje. Felizmente, viver num vazio ajuda a resolver essa tensão," explica o pesquisador Benjamin Hoscheit.
A razão para o alívio nas tensões é que um vazio - com muito mais matéria fora dele, exercendo uma atração gravitacional ligeiramente maior - afeta o valor da constante de Hubble medida com uma técnica que usa supernovas relativamente próximas, mas não terá efeito sobre o valor obtido por uma técnica que usa o Fundo Cósmico de Micro-ondas, uma radiação que se acredita ecoar desde o Big Bang.
Segundo Hoscheit, isto permite uma comparação direta entre a determinação "cósmica" da constante de Hubble e a determinação "local", derivada de observações da luz de supernovas relativamente próximas.
Vazio KBC
Este novo estudo faz parte do esforço maior para entender melhor a estrutura em larga escala do Universo.
A estrutura do cosmos é parecida com um queijo suíço, no sentido de que é composta da matéria bariônica normal distribuída na forma de filamentos e vazios. Os filamentos são compostos de superaglomerados e aglomerados de galáxias, que por sua vez são compostos de estrelas, gás, poeira e planetas - a matéria escura e a energia escura, nunca observadas diretamente, devem responder por aproximadamente 95% dessa massa total.
O vazio que contém a Via Láctea, conhecido como o vazio KBC - em referência a Keenan, Barger e Lennox Cowie (Universidade do Havaí) -, é pelo menos sete vezes maior do que a média, com um raio que mede cerca de 1 bilhão de anos-luz e com a forma de uma esfera com uma "concha" cada vez maior composta de galáxias, estrelas e outros materiais - é o maior vazio cósmico conhecido pela ciência.
Os astrofísicos afirmam que a nova análise mostra que as primeiras estimativas do vazio KBC não são descartadas por outros dados observacionais coletados desde então.