Redação do Site Inovação Tecnológica - 16/08/2012
Astronomia e arte
Assim como René Magritte escreveu "Isto não é um cachimbo" na sua famosa pintura, também isto não é um cachimbo.
É, no entanto, uma imagem de parte de uma vasta nuvem escura de poeira interestelar chamada Nebulosa do Cachimbo.
Esta nova imagem extremamente detalhada do objeto, que também é conhecido como Barnard 59, foi obtida com o instrumento Wide Field Imager, montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros instalado no Observatório de La Silla, Chile.
Por coincidência, esta imagem está sendo divulgada no 45º aniversário da morte do pintor.
Nebulosa do Cachimbo
A Nebulosa do Cachimbo é o exemplar perfeito de uma nebulosa escura. Originalmente os astrônomos pensavam que estas eram áreas do céu onde não existiam estrelas.
Mais tarde, descobriu-se que as nebulosas escuras são na realidade constituídas por nuvens de poeira interestelar, tão espessas que bloqueiam a radiação que vem das estrelas que se encontram por trás.
A Nebulosa do Cachimbo aparece sob um fundo de nuvens estelares próximas do centro da Via Láctea na constelação de Ofiúco (ou Serpentário). Esta estranha e complexa nebulosa escura situa-se a cerca de 600-700 anos-luz de distância.
Nebulosas de Barnard
A componente mais conhecida da Nebulosa do Cachimbo é a Barnard 59, que pode ser facilmente observada a olho nu com céu limpo e escuro. A formação contém ainda Barnard 65, 66, 67 e 78.
Os nomes são uma homenagem ao astrônomo norte-americano Edward Emerson Barnard, que foi o primeiro a registrar de forma sistemática as nebulosas escuras por meio de longas exposições fotográficas, e um dos que reconheceram a sua natureza empoeirada.
Barnard catalogou um total de 370 nebulosas escuras em todo o céu. Um homem empreendedor, comprou a sua primeira casa com o dinheiro que ganhou ao descobrir vários cometas.
Barnard era um excelente observador, possuidor de uma visão fora do comum, que fez várias contribuições em muitas áreas da astronomia no final do século XIX e princípio do século XX.
Teia de estrelas
À primeira vista, a atenção foca-se no centro da imagem, onde nuvens escuras interligadas se parecem com as pernas de uma aranha gigante na sua teia de estrelas.
No entanto, há vários detalhes que chamam a atenção, como formas indefinidas no meio da escuridão, iluminadas por novas estrelas que se formam.
A formação estelar é bastante comum no interior de regiões que contêm nuvens moleculares densas, tais como as nebulosas escuras. A poeira e o gás juntam-se sob a influência da gravidade, e mais e mais matéria é atraída, até que se forma uma estrela.
No entanto, comparada com regiões semelhantes, a Barnard 59 tem relativamente pouca formação estelar, e um grande estoque de poeira.
Asteroides à frente
É possível ainda distinguir mais de uma dúzia de pequenos traços azuis, verdes e vermelhos espalhados por toda a imagem.
São, na realidade, asteroides, pedaços de rocha e metal com alguns quilômetros de extensão que orbitam o Sol. A maioria situa-se no cinturão de asteroides entre as órbitas de Marte e Júpiter. A Barnard 59 encontra-se a cerca de dez milhões de vezes mais longe da Terra do que estes pequeníssimos objetos.
Os asteroides movimentam-se durante as exposições e por isso criam traços curtos. Como esta fotografia foi criada a a partir de várias imagens obtidas em cores diferentes e em alturas diferentes, os diversos traços de cor encontram-se deslocados uns relativamente aos outros.