Com informações do ESO - 12/09/2012
Rabiscos de supernova
Apesar da beleza aparentemente tranquila e imutável de um céu estrelado, o Universo não é um local tranquilo. As estrelas nascem e morrem num ciclo sem fim, e por vezes a morte de uma estrela cria vistas de beleza inigualável quando a matéria é lançada para o espaço formando estranhas estruturas no céu.
É o caso da Nebulosa do Lápis, registrada pelo Observatório de La Silla do ESO, no Chile.
Esta peculiar nuvem de gás brilhante faz parte de um enorme anel de restos deixados por uma explosão de supernova, que aconteceu há cerca de 11.000 anos.
Uma supernova é uma explosão estelar violenta, que resulta da morte de uma estrela de elevada massa, ou então de uma anã branca em um sistema estelar duplo.
A estrutura resultante da explosão é chamada resto da supernova e consiste no material ejetado que se expande a velocidades supersônicas no meio interestelar circundante.
As supernovas são a fonte principal de elementos químicos pesados no meio interestelar, o que por sua vez leva ao enriquecimento químico de uma nova geração de estrelas e planetas.
Vassoura de bruxa
A Nebulosa do Lápis, também conhecida como NGC 2736 e algumas vezes chamada o Raio de Herschel, foi descoberta pelo astrônomo britânico John Herschel em 1835, quando este se encontrava na África do Sul. Herschel descreveu-a como sendo "um raio de luz extraordinariamente longo e fino mas excessivamente tênue".
Esta nuvem de forma estranha, é uma pequena parte do resto de uma supernova, situada na constelação austral da Vela. A parte mais brilhante parece um lápis; daí o seu nome, mas toda a estrutura tem mais a forma tradicional de uma vassoura de bruxa.
Inicialmente a onda de choque deslocou-se com uma velocidade de milhões de quilômetros por hora, mas, à medida que se expandiu pelo espaço, teve que atravessar o gás entre as estrelas, o que a travou consideravelmente, criando pregas de nebulosidade com formas estranhas.
A Nebulosa do Lápis é a região mais brilhante desta enorme concha.
Gás residual
Esta nova imagem mostra enormes estruturas filamentares, pequenos nós brilhantes de gás e regiões de gás difuso.
A aparência luminosa da nebulosa vem de regiões densas de gás atingidas pela onda de choque da supernova. À medida que a onda de choque viaja pelo espaço, vai interagindo com o material interestelar.
Inicialmente, o gás é aquecido a milhões de graus, mas depois arrefece progressivamente - hoje a estrutura ainda emite um brilho fraco, capturado nesta imagem.
Ao observar as diferentes cores da nebulosa, os astrônomos conseguem mapear a temperatura do gás. Algumas regiões estão ainda tão quentes que a emissão é dominada por átomos de oxigênio ionizado, que brilham em azul na imagem. Outras regiões, mais frias, brilham em vermelho, devido à emissão do hidrogênio.
Céu em mutação
A Nebulosa do Lápis mede cerca de 0,75 anos-luz de um lado ao outro e desloca-se no meio interestelar a cerca de 650 mil quilômetros por hora.
Assim, mesmo estando a cerca de 800 anos-luz de distância da Terra, a nebulosa muda notoriamente a sua posição no céu relativamente às estrelas de fundo durante o período de uma vida humana.
Mesmo após 11 mil anos, a explosão de supernova ainda muda a face do céu noturno.