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Meio ambiente

Brasil vai adquirir novo navio oceanográfico

Fábio de Castro - Agência Fapesp - 19/11/2010

Brasil vai adquirir novo navio oceanográfico
O Moana Wave, que será rebatizado de Alpha Crucis, foi construído em 1973 e tem 64 metros de comprimento por 11 metros de largura. Tem capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972 toneladas.
[Imagem: Stabbert Maritime]

Novo navio de pesquisas do Brasil

A comunidade científica brasileira deverá ganhar em breve um novo navio oceanográfico, que poderá levar a capacidade de pesquisas na área a um novo patamar.

A compra do navio Moana Wave, que pertenceu à Universidade do Havaí (Estados Unidos), faz parte de um projeto de incremento da capacidade de pesquisa idealizado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).

O Moana Wave foi construído em 1973 e tem 64 metros de comprimento por 11 metros de largura. Tem capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972 toneladas.

A aquisição agora depende apenas da aprovação do relatório da JMS, empresa norte-americana de engenharia naval contratada para fazer uma vistoria técnica da embarcação. A empresa é responsável por fazer os laudos periódicos para todos os navios de pesquisa financiados pela National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos.

"A vistoria foi acompanhada por uma equipe do IO-USP, que já aprovou a compra. Assim que o relatório for apresentado tomaremos a decisão final para deflagrar a operação de aquisição, que faz parte de uma proposta de levar a pesquisa em oceanografia para outro patamar", afirmou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Em abril deste ano, Brito Cruz havia anunciado a intenção de adquirir o melhor navio oceanográfico disponível no mundo.

Navio Alpha Crucis

Se o navio for adquirido, receberá um novo nome, proposto pela diretoria do IO-USP: Alpha Crucis. O nome remete à maior estrela da constelação do Cruzeiro do Sul. Trata-se também da estrela que representa o Estado de São Paulo na bandeira nacional.

"Outro projeto, que deverá ser inserido em chamada do Programa Equipamentos Multiusuários da FAPESP, inclui a compra de um barco oceanográfico com custo na faixa dos US$ 2 milhões. Serão dois instrumentos importantes para proporcionar um salto de pesquisa na área. O Atlântico Sul é pouco estudado e avançar o conhecimento sobre ele tornou-se uma tarefa crítica devido à questão das mudanças climáticas", afirmou Brito Cruz.

De acordo com o diretor do IO-USP, Michel Michaelovitch, o Moana Wave substituirá o navio oceanográfico Professor W. Besnard, que está sem condições operacionais de pesquisa. O navio, que levou as primeiras equipes de pesquisa brasileiras à Antártica, sofreu um incêndio em 2008 e atualmente não tem capacidade de locomoção.

Essa perda, segundo Michaelovitch, gerou a demanda para a aquisição de um navio que atenda à necessidade de pesquisa oceanográfica no Estado de São Paulo. O Moana Wave representará ainda um incremento das condições de pesquisa em relação à antiga embarcação.

"Em comparação com o Professor Besnard, o salto qualitativo é gigantesco. Uma das principais razões para isso é a diferença de autonomia. Enquanto o Besnard tinha uma autonomia de 15 dias, o Moana Wave tem capacidade para navegar 70 dias", disse Michaelovitch.

Com a autonomia de 70 dias, os pesquisadores poderão atingir áreas distantes, incluindo não apenas a região do pré-sal - um tema importante atualmente -, mas também outros locais em oceano profundo.

"Isso amplia a capacidade de pesquisas em diversas áreas, como os estudos sobre biodiversidade em águas profundas. Nesse caso, o navio poderá ser útil para cientistas do Programa Biota-FAPESP, por exemplo", explicou.

O mesmo vale, segundo Michaelovitch, para possíveis parcerias com a Escola Politécnica para desenvolvimento tecnológico em oceano profundo, ou estudos sobre recursos naturais e mudanças climáticas. "Em suma, abre-se um leque de perspectivas de pesquisa que são hoje limitadas pela inexistência de um meio flutuante com capacidade de fazer esse tipo de trabalho", disse.

Instrumentação

Brasil vai adquirir novo navio oceanográfico
A aquisição do novo navio oceanográfico faz parte de uma proposta de levar a pesquisa brasileira para outro patamar.
[Imagem: Stabbert Maritime]

A análise do Moana Wave pela JMS foi realizada nos dias 8 e 9 de novembro, com a presença de uma equipe do IO-USP da qual Michaelovitch fez parte.

"Como pesquisador e usuário do navio oceanográfico, acompanhei pessoalmente a vistoria, juntamente com o atual comandante e o chefe de máquinas do Besnard, além de mais um pesquisador do IO-USP", disse.

Segundo o diretor do IO-USP, foi feito um levantamento minucioso das condições estruturais, máquinas, equipamentos, instalações e laboratórios, reunindo um conjunto grande de informações. O relatório pautará a decisão final da FAPESP.

"Consideramos que o navio tem boas condições e longa vida útil pela frente. O relatório formal deverá ser enviado em cerca de duas semanas. Se for aprovado, algumas modificações que solicitamos à embarcação serão feitas no próprio estaleiro onde se encontra atualmente, em Seattle. O navio deverá ter condições de chegar ao Brasil em meados de 2011, já em totais condições de operação", disse.

Segundo Michaelovitch, a FAPESP financiará a compra do navio e a instrumentação deverá ser financiada pelos dois Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) voltados a pesquisas marítimas.

"Vamos pleitear recursos na chamada dos INCTs para complementar a instrumentação do navio, muito embora ele já venha com um conjunto importante de equipamentos. Já é um navio oceanográfico e não precisa de adaptações", disse.

Navio multiusuário

A manutenção e a gestão do navio ficarão a cargo da USP, segundo Michaelovitch. "O navio pertencerá à USP e não ao IO, embora naturalmente o instituto vá operá-lo. Mas é importante destacar que haverá um compartilhamento das atividades do navio, como sempre ocorreu, no passado, com o Professor Besnard", disse.

Segundo Michaelovitch, não haverá restrição a projetos de outras unidades ou instituições. "Unidades da USP como a Escola Politécnica, ou o Museu de Zoologia, ou o Centro de Biologia Marinha, têm competências específicas de pesquisa para as quais o navio será muito útil. Projetos ligados a grandes programas - como o Biota-FAPESP - reúnem sempre pesquisadores de várias universidades, como a Unicamp e a Unesp", disse.

O Brasil tem outros navios oceanográficos em operação, entre os quais o Cruzeiro do Sul e o Almirante Maximiano - veja também Navios científicos brasileiros partem rumo a novas pesquisas.

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