Com informações da Agência Fapesp - 11/01/2011
Volta ao mundo
No próximo dia 13 de janeiro, um navio espanhol fará no Rio de Janeiro a primeira escala de uma viagem iniciada em 15 de dezembro em Cádiz, na Espanha, cujo roteiro inclui, além da capital fluminense, mais nove cidades no mundo, como Sidney, na Austrália, e Honolulu, no Havaí.
Não se trata de mais um navio de cruzeiro que costuma aportar no litoral carioca nesta época do ano, mas de uma embarcação oceanográfica, o navio Hespéride, que integra a expedição de circunavegação Malaspina 2010.
Batizada com o nome do capitão-de-fragata da marinha espanhola Alejandro Malaspina - que em julho de 1789 iniciou a primeira expedição de circunavegação ibérica e cuja morte completou 200 anos em 2010 -, o objetivo da expedição é realizar um estudo multidisciplinar para avaliar os impactos das mudanças globais e a biodiversidade dos oceanos.
Para isso, os mais de 400 pesquisadores de diversos países que participam do projeto realizarão, ao longo dos próximos nove meses, experimentos em 350 pontos diferentes e recolherão 70 mil amostras de ar, água e plâncton da superfície e das profundezas dos oceanos.
Banco de dados oceânico
As amostras, além das imagens e informações coletadas durante a expedição, serão reunidas em banco de dados que será mantido na Universidade de Cádiz, na Espanha, durante os próximos 30 anos. O acervo poderá ser acessado para pesquisa pela comunidade científica internacional.
"Por meio dessa expedição, avançaremos muito no entendimento sobre os impactos das mudanças globais nos oceanos, porque ainda sabemos muito pouco sobre eles. Os oceanos já mudaram muito nos últimos anos e isso será evidenciado nessa expedição", antevê Alex Enrich Prast, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O biólogo, juntamente com seus colegas Humberto Marotta e Luana Queiroz Pinho, são os três representantes brasileiros na expedição integrada por 19 instituições estrangeiras. Entre elas estão as agências espaciais dos Estados Unidos (Nasa) e da Europa (ESA).
"Nossa participação no projeto será, principalmente, na rota do Atlântico Norte até o Hemisfério Sul", disse Prast, que há cinco anos iniciou uma colaboração em projetos de pesquisa relacionados ao ciclo de carbono em lagos e algas para produção de biocombustíveis com um dos mais prestigiados oceanógrafos do mundo, o português Carlos Duarte.
Presidente do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha e coordenador científico da expedição, Duarte convidou Prast para integrar o projeto em função da participação anterior do brasileiro em projetos conjuntos e devido às suas pesquisas sobre os fatores reguladores da produção, consumo e emissão de gases de efeito estufa em ambientes aquáticos.
Ciclo de carbono no mar
"Um dos objetivos da expedição oceanográfica é avaliar o ciclo de carbono no mar, porque se sabe que há um enorme estoque de CO2 no fundo do oceano. Eu e meus alunos estaremos envolvidos na expedição com pesquisas relacionadas justamente a esse tema", disse Prast.
Prast não irá embarcar na expedição porque não encontrou disponibilidade em sua agenda. Mas Luana, que desenvolverá pesquisas relacionadas aos compostos orgânicos voláteis no mar, integra a tripulação do navio que está vindo da Espanha, formada por 50 cientistas e 55 marinheiros.
Já Marotta, que realizará pesquisas sobre os fatores que regulam a emissão e a apreensão de dióxido de carbono na atmosfera, embarcará no dia 17 de janeiro, quando o Hespéride zarpará da capital fluminense.
"O convite para participarmos da expedição coroou nossa participação em projetos de pesquisa com o professor Carlos Duarte. E, se pensarmos que 70% do planeta é coberto pelo oceano, é preciso muito mais expedições oceanográficas como essa para conhecê-lo melhor", disse.
Volta ao mundo científica
Financiada pelo Ministério de Ciência e Inovação da Espanha ao custo de mais de 6 milhões de euros, a expedição percorrerá 49 mil milhas náuticas (pouco mais de 88 mil quilômetros).
Inicialmente, o Hespéride, que será o responsável pela maior parte da travessia, faria uma escala no Rio de La Plata, na Argentina, por onde Alejandro Malaspina passou durante sua expedição há mais de 200 anos. Mas, por deferência aos pesquisadores brasileiros, os organizadores da expedição decidiram alterar a rota original e incluir a capital fluminense.
Do Brasil, o navio oceanográfico seguirá em 17 de janeiro para a Cidade do Cabo, na África do Sul, de onde irá para Perth e Sidney, na Austrália, e Auckland, na Nova Zelândia. De lá, a embarcação rumará para Honolulu, no Havaí, depois para a Cidade do Panamá, até chegar a Cartagena de Índias, na Colômbia, onde terminará a sua participação, em julho de 2011, quando retornará à Espanha.
De Cartagena das Índias partirá outro navio oceanográfico, o Sarmento de Gamboa, que realizará durante três meses a travessia de Las Palmas de Grand Canária, na Espanha, a Santo Domingo, na República Dominicana, finalizando a expedição.
Divulgação
Em cada cidade que faz parte do roteiro da expedição serão realizadas visitas guiadas aos navios oceanográficos, além de conferências sobre o projeto, as consequências das mudanças climáticas nos oceanos e a importância das pesquisas marinhas.
No Rio de Janeiro, a conferência será realizada no dia 14 de janeiro, às 18h, no Instituto Cervantes de Botafogo. O evento terá a participação do comandante do Hespéride, Juan Antonio Aquillar Cavanillas, além do chefe científico do navio, o pesquisador Pep Gasol, e dos pesquisadores brasileiros que participam da expedição.
A visita guiada ao Hespéride ocorrerá no dia 15 de janeiro, no Píer Mauá, das 8h30 às 17h. Os interessados devem se inscrever até 12 de janeiro pelo e-mail malaspinario@gmail.com. As vagas são limitadas.