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Espaço

NASA anuncia descoberta inequívoca de água na Lua

Redação do Site Inovação Tecnológica - 26/10/2020

NASA anuncia descoberta de água na Lua - versão 2020
Apesar da contestação de vários anúncios anteriores, agora a equipe fala em "detecção inequívoca de água" na Lua.
[Imagem: NASA/Daniel Rutter]

Água ou hidroxila?

Usando o telescópio voador Sofia - o único do seu tipo, montado em um avião 747 - astrônomos ligados à NASA anunciaram ter descoberto "indícios inequívocos" de água na Lua.

São apenas traços - 100 vezes menos água do que existe nas areias do deserto do Saara - mas a observação foi feita em áreas iluminadas pelo Sol, onde não se espera mesmo qualquer tipo de "solo molhado".

As missões de exploração de água na Lua sempre focam no fundo escuro e frio das crateras polares, onde a luz do Sol nunca chega e, portanto, há mais possibilidade de encontrar uma maior quantidade de água.

O anúncio da NASA é fundamentado em dois estudos. O primeiro demonstra que moléculas de água podem estar aprisionadas na superfície lunar em compostos vítreos. Isso é importante porque a água livre não é estável nas condições encontradas na Lua, e saber que ela pode estar aprisionada em minerais mantém a possibilidade de que a detecção de moléculas - como a realizada pelo segundo estudo - indique a presença de água de verdade.

O segundo estudo usou uma nova técnica de detecção para tentar distinguir entre água (moléculas de H2O) e compostos hidroxila (OH), que várias missões já observaram em nosso satélite. Mas encontrar H2O e encontrar OH são coisas muito diferentes, e até hoje nenhum instrumento conseguiu discernir entre as duas.

Por exemplo, um mapa da água na superfície da Lua anunciado com grande estardalhaço pela NASA em 2017 era apenas um mapa de moléculas hidroxila. E a descoberta anunciada hoje nem mesmo se destacaria naquele mapa, que apresentava concentrações de 500 a 750 partes por milhão (ppm) de hidroxila na Lua: o resultado anunciado agora calcula concentrações de 100 a 412 ppm na cratera Clávius, uma cratera gigantesca no hemisfério Sul da Lua, visível a olho nu da Terra.

A diferença é que os cientistas agora acreditam ter razões para afirmar que não é só hidroxila, que é água mesmo.

Telescópio voador

Depois de anos de observações inconclusivas feitas por sondas espaciais, incluindo algumas que só estavam de passagem pela Lua, a Nasa resolveu pedir auxílio do telescópio voador Sofia - Sofia é um acrônimo para a expressão em inglês Observatório Estratosférico para Astronomia no Infravermelho.

O telescópio consiste em um avião Boeing 747 modificado para levar um telescópio. Voando a altitudes de até 13.700 metros, o telescópio de 106 polegadas de diâmetro fica acima de mais de 99% do vapor de água da atmosfera da Terra, o que permite captar imagens mais claras no infravermelho.

O Sofia foi projetado para observar objetos distantes, como buracos negros, aglomerados de estrelas e galáxias. De fato, esta é a primeira vez que ele foi usado para observar a Lua.

As observações divulgadas agora foram feitas em comprimentos de onda específicos de 3 e 6,1 micrômetros - e aí está a novidade da pesquisa.

"Uma hidratação generalizada foi detectada na superfície lunar através de observações de um dado de absorção característico a 3 micrômetros por três espaçonaves independentes. Não se sabe se a hidratação é água molecular (H2O) ou outros compostos de hidroxila (OH) e não há métodos estabelecidos para distinguir os dois usando a banda de 3 micrômetros. No entanto, uma vibração fundamental da água molecular produz uma assinatura espectral de 6 micrômetros que não é compartilhada por outros compostos hidroxila," escreveu a equipe referindo-se aos dados coletados pelo Sofia.

Com base nos dois comprimentos de onda, a equipe afirma então tratar-se de uma "detecção inequívoca de água".

"Descobrimos que a distribuição de água na pequena faixa de latitude [observada] é resultado da geologia local e provavelmente não é um fenômeno global. Por último, sugerimos que a maioria da água que detectamos deve estar armazenada dentro de vidros ou em espaços vazios entre os grãos protegidos do ambiente lunar hostil, permitindo que a água permaneça na superfície lunar," concluiu a equipe.

NASA anuncia descoberta de água na Lua - versão 2020
O telescópio Sofia sempre foi muito criticado na comunidade astronômica por ser caro de operar e nunca ter obtido resultados científicos significativos.
[Imagem: NASA/Tom Tschida]
Prudência

Missões orbitais e de impacto nos últimos 20 anos, como a sonda LCROSS, captaram indícios de gelo em crateras permanentemente sombreadas ao redor dos pólos lunares. Enquanto isso, várias outras sondas espaciais - incluindo a missão Cassini e a Deep Impact, bem como a missão Chandrayaan-1 da Índia - observaram amplamente a superfície lunar, todas coletando indícios de hidratação (OH) em regiões ensolaradas.

Assim, quando se trata de água na Lua - água mesmo, H2O -, o que temos de concreto até agora são amostras trazidas pelos astronautas da Apolo, todas indicando que a Lua seria completamente seca. E não deveremos ter novidades de fato inequívocas antes que naves e sondas robotizadas voltem a visitar a Lua e tragam amostras de outros locais.

Nos próximos dias, outros cientistas começarão a analisar os dados, levantando explicações alternativas para os dados ou, eventualmente, reforçando as conclusões da equipe. Assim, a exemplo dos vários questionamentos que estão sendo levantados quanto ao estudo que recentemente indicou possíveis sinais de vida em Vênus e das próprias trapalhadas da NASA na questão da água na Lua, o mais prudente é manter um otimismo cauteloso com a nova "descoberta".

Bibliografia:

Artigo: Molecular water detected on the sunlit Moon by Sofia
Autores: C. I. Honniball, P. G. Lucey, S. Li, S. Shenoy, T. M. Orlando, C. A. Hibbitts, D. M. Hurley, W. M. Farrell
Revista: Nature Astronomy
DOI: 10.1038/s41550-020-01222-x

Artigo: Micro cold traps on the Moon
Autores: P. O. Hayne, O. Aharonson, N. Schörghofer
Revista: Nature Astronomy
DOI: 10.1038/s41550-020-1198-9
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