Redação do Site Inovação Tecnológica - 25/07/2023
Construindo átomo por átomo
Construir objetos e novos materiais de baixo para cima, montando um átomo de cada vez como se eles fossem peças de Lego, é um dos sonhos mais emblemáticos da nanotecnologia.
Martina Soldini, da Universidade de Zurique, na Suíça, não apenas demonstrou essa técnica na prática, como ela a utilizou para construir uma das classes de materiais mais interessantes que existem: os supercondutores.
Soldini estava se concentrando em novos tipos de supercondutores, que são interessantes não apenas porque oferecem resistência zero à passagem da eletricidade, mas também por que os supercondutores têm sido usados em muitos computadores quânticos devido às suas extraordinárias interações com campos magnéticos - os qubits mais utilizados hoje são supercondutores.
Os físicos teóricos têm pesquisado e previsto a existência de vários estados supercondutores, cada um mais interessante que o outro. "No entanto, até agora apenas um pequeno número foi demonstrado de forma conclusiva em materiais," disse o professor Titus Neupert, coordenador da equipe.
Foi aí que entrou em cena a técnica e a paciência de Soldini, que decidiu montar esses supercondutores inovadores átomo por átomo, depositando um átomo de cada vez.
Usando um microscópio de tunelamento, ela moveu e depositou os átomos no lugar preciso previsto pelos teóricos. O mesmo método foi então usado para medir as propriedades magnéticas e supercondutoras da estrutura resultante.
As teorias estavam certas: Ao depositar átomos de cromo sobre uma superfície de nióbio, Soldini criou estruturas supercondutoras, pelo menos duas delas com comportamentos da supercondutividade que nunca haviam sido observados experimentalmente.
Impressora 3D que deposite átomos
Métodos semelhantes já haviam sido usados para manipular átomos e moléculas de metal, mas até agora nunca havia sido possível fazer supercondutores bidimensionais com essa abordagem.
Os resultados não apenas confirmaram as previsões dos teóricos, mas também dão a eles motivos para especular sobre que outros novos estados da matéria podem ser criados dessa maneira, e como esses materiais poderão ser usados nos computadores quânticos do futuro.
Para aplicações práticas, contudo, será necessário automatizar a técnica, que nesta demonstração foi essencialmente "manual", movendo tediosamente a ponta do microscópio para cada posição desejada. Para fabricar materiais em quantidades úteis seria mais adequado uma espécie de nanoimpressora 3D, que deposite átomos em vez de gotas de tinta.